discretamente morre.
Ergueu uma flor.
Levantou uma cidade.
Enquanto o sol perdura
ou uma nuvem passa
surge um nova imagem.
Em qualquer parte um homem
abre o seu punho e ri.
mas quero viver
Não quero salvar-me porque não posso salvar-me
porque a salvação não existe
Perdi o meu percurso
e tudo o que herdei de mim próprio
No mundo as palavras não compensam
a violência absurda do sofrimento
Na página elas podem ser a invenção
de um frémito perante um corpo nu
É na palavra que se acende a minha vida
mas a minha vida sobra sempre como uma cauda cinzenta
Porque é o infortúnio a norma
e não há resgate para a morte?
O mundo é estranho mas é irrefutável
na sua contínua sucessão que nos transcende
e passa sobre nós como se não existíssemos
Teremos acaso de nos unir e reinventar as nossas vidas
para que os deuses nasçam do nosso desamparo?
O silêncio conduz-nos à sua infinita fronteira
mas o ócio iluminado pode vogar na casa
como se estivéssemos entre palmeiras e araucárias
Toda a viagem é um regresso ao ponto de partida
para partir de novo entre a água e o vento
António Ramos Rosa, de seu nome completo António Vítor Ramos Rosa, nasceu em Faro-Algarve, em 1924 e faleceu em Lisboa, em 2013.
Estudou em Faro, e não terminou os estudos secundários por motivos de saúde.
Trabalhou como empregado de escritório, e desenvolveu o gosto pela leitura de romancistas e poetas portugueses e estrangeiros.
Crítico do Estado Novo, em 1945 participou na formação do MUD Juvenil (Movimento de União Democrática) e conheceu a prisão política.
Em Lisboa, ensinou Português, Inglês e Francês, trabalhou numa firma comercial, encetou uma brilhante carreira de tradutor minucioso,
Começa a escrever poemas e é incentivado a publicá-los.
Em 1958, o jornal «A Voz de Loulé» publicou um poema seu "Os dias sem matéria", e no mesmo ano chegou às livrarias o livro "O grito claro", o primeiro de uma obra poética com mais de cinquenta títulos.
Foi distinguido com vários prémios, entre os quais: Prémio Nacional de Poesia (1971), Prémio Pessoa (1988), Prémio da Bienal de Poesia de Liége (1991), Grande Prémio Sophia de Mello Brener Andresen (2005).
Em 2003 a Universidade de Faro atribuiu-lhe o grau de Doutor Honoris Causa.
Foi casado com a escritora Agripina Costa Marques.
No final da vida, o poeta lido e reconhecido isolou-se e trocou a arte das palavras pela arte do desenho de expressivos rostos femininos.
Quem foi afinal o poeta atento ao poder da palavra, activista e teórico literário, que escrevia poemas «numa folha, leve e livre» (título do seu último livro, publicado em 2013); com uma «capacidade imaginativa verbal raríssima» (António Carlos Cortez); o «poeta pobre. Mas poucos neste nosso século nos terão assim investido da riqueza de sermos homens» (Vergílio Ferreira)?
José Tolentino Mendonça, que prefaciou esta Antologia, diz assim:
"Para compreender o «caso» Ramos Rosa, tarefa que o futuro há-de apaixonadamente abraçar, será necessário avaliar até que ponto, até que ardente ponto, ele emerge como figura disruptiva na paisagem portuguesa entre séculos. Já Eduardo Lourenço o chamou, com total razão, «anti-Pessoa». Mas isso é apenas o preâmbulo. Ele é também um «anti-Herberto», e a história que se vier a escreve o dirá".
A Antologia "Poesia presente" (2014) inclui várias dezenas de belíssimos poemas, escolha pessoal de Maria Filipe Ramos Rosa filha única do poeta.
Nela eu encontrei-me com um grande poeta português.
Compre, leia!
(Fotos de ARR e do desenho, da net.)
Estudou em Faro, e não terminou os estudos secundários por motivos de saúde.
Trabalhou como empregado de escritório, e desenvolveu o gosto pela leitura de romancistas e poetas portugueses e estrangeiros.
Crítico do Estado Novo, em 1945 participou na formação do MUD Juvenil (Movimento de União Democrática) e conheceu a prisão política.
Em Lisboa, ensinou Português, Inglês e Francês, trabalhou numa firma comercial, encetou uma brilhante carreira de tradutor minucioso,
Começa a escrever poemas e é incentivado a publicá-los.
Em 1958, o jornal «A Voz de Loulé» publicou um poema seu "Os dias sem matéria", e no mesmo ano chegou às livrarias o livro "O grito claro", o primeiro de uma obra poética com mais de cinquenta títulos.
Foi distinguido com vários prémios, entre os quais: Prémio Nacional de Poesia (1971), Prémio Pessoa (1988), Prémio da Bienal de Poesia de Liége (1991), Grande Prémio Sophia de Mello Brener Andresen (2005).
Em 2003 a Universidade de Faro atribuiu-lhe o grau de Doutor Honoris Causa.
Foi casado com a escritora Agripina Costa Marques.
No final da vida, o poeta lido e reconhecido isolou-se e trocou a arte das palavras pela arte do desenho de expressivos rostos femininos.
Quem foi afinal o poeta atento ao poder da palavra, activista e teórico literário, que escrevia poemas «numa folha, leve e livre» (título do seu último livro, publicado em 2013); com uma «capacidade imaginativa verbal raríssima» (António Carlos Cortez); o «poeta pobre. Mas poucos neste nosso século nos terão assim investido da riqueza de sermos homens» (Vergílio Ferreira)?
José Tolentino Mendonça, que prefaciou esta Antologia, diz assim:
"Para compreender o «caso» Ramos Rosa, tarefa que o futuro há-de apaixonadamente abraçar, será necessário avaliar até que ponto, até que ardente ponto, ele emerge como figura disruptiva na paisagem portuguesa entre séculos. Já Eduardo Lourenço o chamou, com total razão, «anti-Pessoa». Mas isso é apenas o preâmbulo. Ele é também um «anti-Herberto», e a história que se vier a escreve o dirá".
A Antologia "Poesia presente" (2014) inclui várias dezenas de belíssimos poemas, escolha pessoal de Maria Filipe Ramos Rosa filha única do poeta.
Nela eu encontrei-me com um grande poeta português.
Compre, leia!
(Fotos de ARR e do desenho, da net.)
Conheço pouco da POESIA de António Ramos Rosa, por isso, anotei essa antologia poética 📚
ResponderEliminarQue o mês de MAIO 🌹 nos traga a liberdade desejada‼
Adoro poemas assim, espremidos da alma!
ResponderEliminarNão é o meu poeta preferido, mas reconheço-lhe a qualidade e até a unicidade da voz.
ResponderEliminarO mundo é mesmo estranho, mas essa estranheza e-lhe dada pelo ser humano, ser complexo que nunca está satisfeito e que reclama muito mais do que agradece. Nestes tempos tão dificeis em que um simples virus foi capaz de " mandar " no tal do homo sapiens " temos a obrigação de aprender que " teremos de nos unir e reinventar as nossas vidas ", mas, se muitos vão mudar para melhor, muitos outros continuarão a achar que não precisam de ninguém e que, se o infortúnio bate à porta de milhares de pessoas, isso..bem...é norma, faz parte da vida e não há nada a fazer; o que importa para esses é o lucro fácil, a exploração dos mais desfavorecidos e, infelizmente, vemos isso, agora, nesta fase de grande sofrimento para a maioria das pessoas. Por isso, Amiga do coração, não acreito muito que tenhamos uma sociedade melhor depois que tudo terminar; a solidariedade tem sido muita, mas vai acontecer como no Natal, acaba logo que a ultima luzinha se apague nas cidades. Gostei muito deste poema, Teresa! É bom que nos lembremos sempre que tudo passa rápido demais e a vida segue o seu ritmo sem se importar com o que nós fazemos dela. Que este tempo nos ensine a aproveitar cada momento como se fosse o ultimo, dando valor aquilo que realmente importa, Amiga, os nossos abracinhos sempre foram virtuais, mas, aquela nossa intenção de os tornar reais vai ter de ser adiada e não sabemos até quando. A vida manda e nós obedecemos, não ê? Então, aqui te deixo um enorme abraço, bem apertado para que todos os beijinhos cheguem aí, sem que se perca um sequer. Desculpa o " sumiço ", mas...o desânimo às vezes se instala e demora a desaparecer; acho que também lhe posso chamar de virus, não? SAÚDE, AMIGA!
ResponderEliminarEMILIA
😷😘💚🙏🌼
EliminarUm excelente poeta. E que além de o ser deixou na Internet um enorme trabalho de recolha poética e biográfica de dezenas de poetas que muito útil se torna para estudos.
ResponderEliminarAbraço, saúde e bom fim de semana
passando para desjar uma feliz noite parabens pelo poema nao conhecia bjs saude
ResponderEliminarMeu conterrâneo já homenageado pelos seus municípios, não li tudo, mas já o li, é um poeta fantástico.
ResponderEliminarAG
de todo os poetas que já li, o que mais gosto, é o poeta popular meu conterrâneo Antonio Aleixo, tudo que ditou porque não sabia escrever, tem enorme significado. tem muito haver com a minha personalidade.
ResponderEliminarOnde Nasceu a Ciência e o Juízo?
MOTE
— Onde nasceu a ciência?...
— Onde nasceu o juízo?...
Calculo que ninguém tem
Tudo quanto lhe é preciso!
GLOSAS
Onde nasceu o autor
Com forças p'ra trabalhar
E fazer a terra dar
As plantas de toda a cor?
Onde nasceu tal valor?...
Seria uma força imensa
E há muita gente que pensa
Que o poder nos vem de Cristo;
Mas antes de tudo isto,
Onde nasceu a ciência?...
De onde nasceu o saber?...
Do homem, naturalmente.
Mas quem gerou tal vivente
Sem no mundo nada haver?
Gostava de conhecer
Quem é que formou o piso
Que a todos nós é preciso
Até o mundo ter fim...
Não há quem me diga a mim
Onde nasceu o juízo?...
Sei que há homens educados
Que tiveram muito estudo.
Mas esses não sabem tudo,
Também vivem enganados;
Depois dos dias contados
Morrem quando a morte vem.
Há muito quem se entretém
A ler um bom dicionário...
Mas tudo o que é necessário
Calculo que ninguém tem.
Ao primeiro homem sabido,
Quem foi que lhe deu lições
P'ra ter habilitações
E ser assim instruído?...
Quem não estiver convencido
Concorde com este aviso:
— Eu nunca desvalorizo
Aquel' que saber não tem,
Porque não nasceu ninguém
Com tudo quanto é preciso!
António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..."
Excelente, amigo António!
EliminarObrigada, gostei.
Beijo, bom domingo, saúde.
Oi, amadinha, não conhecia o poeta, mas gostei muito do que li, na obra e na biografia.
ResponderEliminarAntónio Ramos Rosa em seu belo poema é descrente e sofrido com a vida e com a humanidade, mas gostaria de muito mais tempo para continuar a viver.
É a tal coisa: está insatisfeito, mas longe de morrer, semelhante ao cristão que adora Deus, fala em seu encontro no paraíso, mas não quer deixar o planetinha - jamais!
"O mundo é estranho mas é irrefutável
na sua contínua sucessão que nos transcende
e passa sobre nós como se não existíssemos"
Um beijo, querida amiga.
Á medida que o tempo foi passando o Poeta António Ramos Rosa foi-nos oferecendo uma poesia cada vez mais profunda, cada vez mais rica, cada vez mais próxima da pessoa que somos. Eu sinto-o assim.
ResponderEliminarUm bom fim de semana minha Amiga Teresa.
Um beijo.
Adoro os poemas de António Ramos Rosa.
ResponderEliminarFeliz Dia da mãe.
Beijinhos
Um poeta que, confesso, me passou ao lado.
ResponderEliminarBeijo, boa semana
Gostei demais do poema, não conhecia, vou procurar mais alguns para ler.
ResponderEliminar"O mundo é estranho mas é irrefutável
na sua contínua sucessão que nos transcende
e passa sobre nós como se não existíssemos"
Tão real isso!!
Abraço e boa semana, Teresa!