"Minha mulher Raquel é ciumenta. Ela costumava me seguir, disfarçadamente, ou então contratava alguém para fazer isso.
Tenho que tomar muito cuidado quando abraço a minha Preferida. Sinto uma espécie de eflúvio, que vem da terra, que vem do ar, um perfume embriagador.
Minha mulher me perguntou:
«Você não gosta mais de fazer amor comigo, Pedro?»
«Gosto… gosto…»
«Então por que não faz?»
Abraço minha mulher, penso na minha Preferida e consigo cumprir minha obrigação de marido. Confesso que antes de encontrar a minha Preferida eu era um sujeito promíscuo. Não sei quantas abracei, às escondidas, algumas vezes à noite, sempre tendo o cuidado de não ser visto por ninguém.
Mas tornei-me outra pessoa depois que encontrei a minha Preferida. Quando eu a abraçava, ficava excitado, encostava o meu pénis nela e ejaculava, Isso me criava um problema, ou melhor, dois problemas. Eu tinha que entrar em casa, correr para o banheiro e lavar aquela cueca. Depois, na cama, era um problema com Raquel. Por uma dessas coincidências - quando penso em coincidência vem-me à mente a frase de Einstein «Coincidência é a maneira que Deus encontrou para permanecer no anonimato», cujo significado nunca entendi direito, mas também nunca compreendi sua fórmula de equivalência massa-energia, E=m2, a equação mais famosa do mundo. Alguém entende? Uma vez pedi ao meu professor de física, na universidade, que me explicasse aquilo e ele não conseguiu -, mas, como eu ia dizendo, por uma dessas coincidências, em um dos dias que encontrei a minha Preferida, Raquel quis fazer amor comigo.
«Novamente, Pedro? O que está havendo? Você tem outra mulher? Anda, diz a verdade, seu farsante, você anda com outra mulher?»
«Não, Raquel, estou apenas cansado.»
«Cansado de ficar sentado no escritório? Você pensa que eu sou alguma idiota?»
Raquel me agarrou pelo pescoço com tanta força que quase desmaiei.
«Se eu pegar você com outra mulher eu… mato os dois, os dois», ameaçou Raquel.
Certa ocasião eu li, não lembro onde, uma frase que dizia que existe um tempo para ousadia e um tempo para cautela, e o homem sábio conhece o momento de cada um deles. Eu me considerava um homem sábio, mas infelizmente estava cada vez mais ousado e menos cauteloso.
Um dia eu estava fazendo sexo com a minha Preferida quando fui surpreendido pelo flash de uma máquina fotográfica. Alguém me agarrou, senti uma pancada na cabeça e desmaiei.
Acordei numa cama de hospital, com os pulsos presos no gradil da cama.
Um sujeito de avental branco entrou no quarto.
«Está na hora da sua injeção», ele disse.
«Injeção? Por que estou preso aqui nesta cama?»
«O senhor sofre de uma doença muito grave. Dendrolatria patológica de terceiro grau.»
«Não sofro de doença nenhuma, quero ir embora, solte os meus pulsos, quero ir embora.»
«Temos fotos que comprovam o seu comportamento psicopatológico.»
«Fotos? Que fotos?»
«O senhor quer ver?»
«Quero, muito.»
Ele tirou do bolso uma foto e me mostrou. Eu estava fazendo amor com a minha Preferida, vestido, mas com o pénis de fora, enfiado nela.
«Desde quando a cópula é um comportamento psicopatológico?»
«Desde que ocorra com uma árvore. O exame de DNA vai provar que os inúmeros vestígios de esperma no caule são da sua autoria.»
A foto continuava na minha mão. A minha Preferida era mesmo uma árvore de caule grosso. Então ocorreu uma revelação arrebatadora: eu sempre fizera sexo com árvores, eu copulava com as árvores.
Antes que eu pudesse raciocinar sobre isso, o médico me aplicou uma injeção e perdi os sentidos."
Leia e divirta-se!
Antes que eu pudesse raciocinar sobre isso, o médico me aplicou uma injeção e perdi os sentidos."
Leia e divirta-se!
BOM FIM DE SEMANA!
Bom dia, mas que coisa, uma árvore? historia criativa de Rubem Fonseca bem interessante, o homem é capaz do impensável.
ResponderEliminarFeliz fim de semana,
AG
Boa partilha
ResponderEliminarOlá amiga Já li e me diverti muiiito, sensacional sua escolha.
ResponderEliminarbom sábado e ótimos domingo, segunda, terça, quarta, quinta, sexta...Ano
Léah
Nunca tinha ouvido falar em dendrolatria ou dendrólatras desta espécie.
ResponderEliminarVivendo e aprenendo...
Pela amostra, promete.
Grata pela partilha, Teresa.
Dias felizes.
Abraço grande.
~~~~
rssssssss, o homem era muito estranho... será que não descobrira algo melhor do que uma árvore? Putz, Teresa, vivendo e aprendendo! Mas, trazendo Sócrates, "Só sei que nada sei"!
ResponderEliminarRubem Fonseca, muito... muito conceituado, e gostei de vê-lo aqui!
Beijo, querida amiga.
SExo com árvores?! Nunca ouvira...
ResponderEliminarBeijinho, e bom resto de Novembro, Teresa
Amar uma árvore é normal, mas fazer sexo com ela, é muito estranho.
ResponderEliminarEu sou muito ignorante mesmo. Comecei a aprender o que devia ter aprendido de menina, já ao virar da última página da vida. Quer isto dizer que de Rubem Fonseca eu não conheço nada, pelo que lhe agradeço imenso esta partilha.
Obrigada pela visita
Abraço e bom Domingo
Não sei porquê, mas desde o início da leitura que achei estranha essa denominação; Preferida. Sugeria-me uma especial entre muitas, de modo que pensei tratar-se de uma boneca insuflável...afinal, a 'realidade' suplantou tudo o que eu previra.
ResponderEliminarBolas!! E aquilo não arranharia o pénis do tresloucado marido infiel? Ehehehe
Beijocas.
( acho que de Rubem Fonseca, fiquei servida, Teresa, não vou espreitar mais nada dele no Rol, obrigada.)
Existem, São
ResponderEliminarChamam-se eco sexuals e dizem eles que fazem amor com a Natureza.
Sem comentários!
Bjs para as duas, boa semana
Olá, Teresa
ResponderEliminarUm amor à Natureza (às árvores, no caso) completamente subvertido, eivado de comportamentos desviantes. Aliás, uma doença diagnosticada no próprio texto.
É caso para se perguntar: Para servem os contos? Com uma estrutura completa, (princípio, meio e fim) que nos permite chegar a uma conclusão rapidamente, leva-nos contudo a interrogar-nos qual a moral que os autores nos querem transmitir, como nas fábulas de La Fontaine. Então, deixo no ar mais esta pergunta: O que quereria Rubem Fonseca transmitir-nos com este conto?
Bj
Olinda
A imaginação de Rubem Fonseca é imensa. Achei a história deliciosa…
ResponderEliminarUma boa semana, minha Amiga.
Um beijo.