19 março, 2018

PAI


PAI, tu foste o melhor pai do mundo.
Tu foste o ser que eu mais amei,
Tu foste o meu herói, o meu exemplo.
Contigo aprendi o significado da palavra honestidade,
Da palavra respeito, da palavra generosidade.
Contigo aprendi a fazer amigos de todas as cores.
Contigo aprendi que a vida nem sempre é como nós esperamos, 
que exige sacrifícios, cedências.

Que orgulho eu sentia quando diziam que era parecida contigo.

Já partiste mas eu penso em ti todos os dias.
Dói muito não ter estado mais vezes ao teu lado,
não ter dito todos os dias que te amava,
não ter acariciado o teu cabelo branco,
não ter pedido o teu conselho sempre que vacilava no caminho.

Recordo com muito carinho o nosso reencontro em Moçambique,
após dois anos de separação.
Eu, a mana e a mãe chegámos ao cais de Lourenço Marques,
depois de 31 dias no mar.
Fui a primeira a ver-te, no meio de uma ruidosa multidão
que aguardava a chegada de familiares da metrópole. Que alegria! 
Do alto dos meus seis anos gritei e gesticulei tentando chamar a tua atenção.
Queria-te só para mim. 
Quando me ergueste do chão e me abraçaste,  molhei o rosto nas tuas lágrimas de alegria.
No aconchego dos teus braços senti-me forte, maior e segura.  
(Sabes pai, a lembrança daquele abraço ainda me aconchega nas horas de desalento.)
Lembro que fizemos de mão dada o caminho para casa, 
e na tua mão sentia o bater do teu coração.
Durante dias rezei e pedi ao Jesus que não voltasse a separar-nos.
Não tinha sido fácil viver sem ti.

Adoravas música. E que bem tocavas acordeão e guitarra.
Nunca quis aprender contigo. Hoje arrependo-me.
Gostavas de futebol e eras adepto do Sporting.
Chegaste a jogar no Belenenses de Lourenço Marques.
Gostavas de conviver e divertir-te. Junto de ti a festa era incessante.
Apoiavas, aconselhavas e respeitavas os amigos. Tinhas tantos!
Amavas desmesuradamente a tua família.
Aprendi a amar a minha, contigo!

Partiste há vinte anos, sem permitir que me despedisse de ti.
A dor foi enorme. Zanguei-me contigo.
Fiz as pazes quando percebi que continuávamos juntos,
ligados por um amor maior - o amor do coração.
Amo-te, pai!

10 comentários:

  1. Que AMOR lindo!!!
    Uma sentida e bela homenagem!!!bj

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  2. Teresa, essa é uma postagem que ao lermos ora dói, e ora nos enche de admiração, de alegria por ver que esse é um amor verdadeiro, incondicional. Faz bem pra todos ler uma postagem assim, cheia de carinho, admiração e o forte desejo de estar junto.
    Por que perdemos os que amamos? Por que a vida tem fim, que somos finitos? No fundo aceitamos, há um conformismo, mas é muito sofrimento. E a vida é assim e pronto. Simples, não? Parece, mas não é. Passaram-se anos e você, eu e um mundo de gente ainda escreve, ainda fala, ainda chora.
    Muito bom você ter postado um tipo de texto assim, parece que aí é o Dia dos pais...
    Sabe, amiga, a gente conhece os outros pelo que elas escrevem, nada mais fácil de conhecer por esse método, e minha admiração e carinho por você cada dia é maior...
    Beijo/carinho.

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    1. Tens razão, Tais, somos finitos. Sabemos disso mas não queremos admitir. Então, não sabemos lidar com a perda dos que amamos, e quase sufocamos de dor. Dor que só acalma quando percebemos que continuam connosco para sempre, na memória e no coração. Aí, voltamos a sorrir.
      Beijo carinhoso querida amiga. Estamos juntas!

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    2. O meu pai foi um cavalheiro
      e parecia que a mulher da
      casa era ele, tal a elegância
      com que tratava sua "moça", como
      ele a chamava, e a nós, seus
      filhos.

      Que eles, o meu e o teu, con-
      tinuem nos indicando o cami-
      nho, como o fizeram enquanto
      puderam.

      Beijos e boa noite.

      silvioafonso



      .

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  3. Para ti, Teresa, é também um dia triste e soubeste partilhar connosco todo esse amor pelo teu pai num lindo e emocionante texto. Muito obrigada, amiga, por me teres dado a oportunidade de, ao ler o teu desabafo, com muita emoção , pensar no meu, homenageando-o. Com certeza não te importas que me tenha juntado a ti, nesta " oração", nesta saudade. Deixo- te também aquele abraço muito, muito apertadinho , daqueles que " só duas amigas sabem dar ".
    Obrigada!
    Emilia

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    1. Emilia, que bom que vieste até aqui.
      Duas amigas orando juntas num "abraço muito apertadinho" só pode atenuar a dor sufocante de tanta saudade.
      Hoje é um dia triste para ambas. Para ti mais, porque a perda é recente. Coragem, amiguinha!
      Obrigada eu, pela tua amizade.

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  4. Um sujeito que perde o pai com as
    qualidades do teu e que o meu tinha,
    não pode ler o que escreves sem der-
    ramar uma lágrima.
    No dia que alguém me perguntar como
    era o meu pai e vou mandar que leia
    o seu depoimento ou melhor, a sua
    oração. O que dizes é uma prece e
    nada mais.

    Um beijo, meu anjo e boa noite.

    silvioafonso



    .

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    1. Obrigada, Silvio!
      Me emocionaram muito as tuas palavras e deixei que uma lágrima minha caísse no teu coração.
      Beijo,amigo.

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  5. A minha maior responsabilidade, o meu maior desafio, aquele que não posso falhar - ser um bom pai para as minhas filhas.
    Beijos

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    1. Pedro, pelo que já li acredito que és um pai (e marido) extraordinário.
      Eu tenho um filho com 42 anos (advogado como tu) e uma filha com 35. Amo-os apaixonadamente!
      Ensinei-os a serem boas pessoas, tal qual o meu pai me ensinou a mim. Com orgulho, posso dizer que fiz um bom trabalho!
      Beijo.

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