Com o tempo o tempo encolhe. Lembro-me de que quando era criança e andava na escola primária as Férias Grandes eram realmente grandes, podíamos mudar de vida várias vezes, emagrecer, engordar e emagrecer outra vez, e ainda sobravam férias. Naquela época, dez anos confundiam-se com a Eternidade. “Com o tempo o tempo encolhe”
Lançado em 2000, este livro de crónicas de José Eduardo Agualusa publicadas na Pública, revista do jornal Público, comprova a qualidade de escrita do escritor angolano.
Reúne 50 textos curtos - distribuídos por três grupos Ficções, Inquietações, Paixões - que abordam diversos temas, alguns bem complexos como as relações entre homens e mulheres, com muito humor e grande acutilância crítica.
“Substância do amor”, escolhida para título do livro, está no primeiro grupo. São duas páginas mal cheias de texto, um presente de amor e humor:
“ELA AINDA O AMAVA: «O amor é apenas o princípio do ódio.» Dizia estas coisas terríveis com uma convicção que assustava as amigas. (…) «O verdadeiro amor é contraditório». Agora tinha a certeza de que seria feliz para sempre – e infeliz algumas vezes: «É preciso conhecer a noite para apreciar o dia».
As amigas cansaram-se dos seus aforismos. Uma irritou-se: «Achas que sabes realmente tudo sobre o amor?»
Ela estava tão feliz que não se importou. Não sabia, claro, porque «todo o amor é um mistério». Mas estava feliz e a felicidade fazia-lhe bem à pele: «Deviam isolar a substância do amor e colocá-la nos cremes de beleza.»" (...)
“Se o Lobo Mau fosse angolano” do segundo grupo, é para ler e reflectir:
“SE O LOBO MAU FOSSE AMERICANO TERIA COMIDO A AVOZINHA, o Capuchinho Vermelho, o Caçador e ainda toda a Comissão de Inquérito nomeada pelas Nações Unidas para investigar o caso. Um Lobo Mau japonês faria a mesma coisa, mas com tal eficiência e descrição que ninguém daria por nada.
Imaginemos agora um Lobo Mau angolano: com toda a certeza chegava a um acordo com o Capuchinho e juntos comiam a Avozinha. A seguir o Lobo Mau comia o Capuchinho e acusava o Caçador.” (...)
“Como amar uma mulher (e sobreviver)” do terceiro grupo, é para rir, rir, rir:
“ESTA É UMA CONVERSA SÓ PARA HOMENS. Minhas senhoras, queridas leitoras, por favor saiam neste parágrafo e fechem a página. Saíram?
Será que saíram todas?
Estamos então entre nós. Bom, é que eu preciso de desabafar. Sou um homem que gosta de mulheres (…) são poucos os homens que gostam de mulheres. É para estes, na verdade, que eu escrevo esta crónica. Os outros, os que pensam que gostam de mulheres – mas nunca entrançaram o cabelo no seu amor – esses podem também fechar a página.
Agora sim, estamos entre nós. (...)
Querem saber agora qual é o segredo para amar uma mulher e sobreviver?
Eu também.”
Termino com o magnífico início da primeira crónica “Borges no inferno”:
JORGE LUIS BORGES SOUBE QUE TINHA MORRIDO quando, tendo fechado os olhos para melhor escutar o longínquo rumor da noite crescendo sobre Genebra, começou a ver.
Se gosta de ler pequenas histórias tanto quanto eu, este livro é para si.
Compre, leia, divirta-se!
A substância do amor e outras crónicas, de José Eduardo Agualusa
Ed. Quetzal, 2017
184 págs.
É um dos meus escritores de referência o Agualusa e este livro ainda não o li mas vou lê-lo de certeza absoluta.
ResponderEliminarUm abraço e bom fim-de-semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Merecido destaque para o grande escritor que é Agualusa.
ResponderEliminarBom fim de semana, amiga Teresa.
Um abraço.
.
ResponderEliminarTeresa, depois eu comento teu
texto, porque mal acabei de ler
teu comentário corri para cá.
Ninguém ou quase ninguém fala
comigo como tu falas e esse
negócio de dizeres que eu falo
sem ofender os bons costumes é
coisa de quem gosta da gente.
Afinal de contas eu falo do jeito
que sei enquanto demonstras a
grande amiga que és. Adoro quando
tu abres o coração e falas o que
te dá na telha. Por isso, com
todo o respeito e grito a todos
os meus amigos; "Teresa, te amo!"
Beijos.
silvioafonso
Parece ser bem interessante.
ResponderEliminarObrigado pela dica.
Bom fim de semana
Beijinhos
Maria de
Divagar Sobre Tudo um Pouco
Teresa,
ResponderEliminarSuas publicações são riquíssimas e
as leio com calma enquanto tomo
algumas xícaras do meu café.
Feliz domingo.
Bjins e/ou Abraço
CatiahoAlc.
Registo a sugestão, de um autor que me muito aprecio.
ResponderEliminarFica em lista de leitura.
Bjs, boa semana
Belo conselho. Poder-se-ia
ResponderEliminarcomprá-lo sem regateio.
Beijos, amiga. Bom dia.
silvioafonso
.
José Eduardo Agualusa é um autor excelente, cuja leitura nos cativa sempre.
ResponderEliminarUma boa semana.
Um beijo.
Teresa gostei da indicação e está registrada.
ResponderEliminarComo estas? A primavera finalmente chegando por ai.
Aqui dizem ser o outono, entretanto mais parece verão continuando.
beijinhos, Léah
Léah, sinto-me bem e agora que a primavera chegou vou sentir-me ainda melhor. Adoro sol!
EliminarEntretanto, como a chuva volta amanhã e fica até domingo de Páscoa (dizem os entendidos), vou procurar conforto nas amêndoas de chocolate...
Léah, este livro de crónicas é "pura diversão".
Beijo, amiga, e uma Santa Páscoa.
Querida Teresa, como não anotar o cronista angolano Eduardo Agualusa? Apesar dele escrever no Globo, jornal brasileiro, já está anotado o livro. Livro é livro, não é amiga?
ResponderEliminarBeijinho!
Cronista Tais, tenho a certeza que te vais divertir-te com as pequeninas histórias de Agualusa.
EliminarBeijo.