“Dói-me a cabeça.
O meu desejo é morrer, pelo menos temporariamente, mas isto, como disse, só porque me dói a cabeça. E neste momento, de repente, lembra-me com que melhor nobreza um dos grandes prosadores diria isto. Desenrolaria, período a período, a mágoa anónima do mundo: aos seus olhos imaginadores de parágrafos surgiriam, diversos, os dramas humanos que há na terra, e através do latejar das fontes febris erguer-se-ia no papel toda uma metafísica da desgraça. Eu, porém, não tenho nobreza estilística.
Dói-me a cabeça porque me dói a cabeça. Dói-me o universo porque a cabeça me dói. Mas o universo que realmente me dói não é o verdadeiro, o que existe porque não sabe que existo, mas aquele, meu de mim, que, seu eu passar as mãos pelos cabelos, me faz parecer sentir que eles sofrem todos só para me fazerem sofrer.”
Dói-me a cabeça porque me dói a cabeça. Dói-me o universo porque a cabeça me dói. Mas o universo que realmente me dói não é o verdadeiro, o que existe porque não sabe que existo, mas aquele, meu de mim, que, seu eu passar as mãos pelos cabelos, me faz parecer sentir que eles sofrem todos só para me fazerem sofrer.”
Fernando Pessoa, poeta português (1888-1935), in “Livro do desassossego”, Ed. Tinta da China, 2014
Foto da net.
Amiga Teresa Dias,
ResponderEliminarFernando é quase um vidente
Que sentiu tudo que a gente
Sente e as palavras vazias
Que nos temos ele cria-as
Não como crença. Ele sente
Ou sentiu provavelmente
Quando as pôs em poesias.
Parabéns pela postagem
Magnífica. É a imagem
Da luz e da maestria
Dessa figura na aragem
Do vento em uma viagem
Vaga que voga e vigia.
Grande abraço. Laerte.
Olá Laerte!
EliminarObrigada pelas palavras lindas e palavras simpáticas.
Sou louquinha por Pessoa - e isso nota-se.
Abraço.
Perante uma dor física, toda a metafísica transforma-se em assunto oco, frívolo e inútil...
ResponderEliminarMesmo sem curso superior, foi um grande pensador.
Saudações literárias.
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Olá Majo!
EliminarIniciei agora a leitura de alguns contos de Pessoa. Contos com longos argumentos filosóficos-metafísicos sobre o Universo, o Desconhecido, etc. e tal...
Menina, em que tarefa difícil eu me meti!
Bjs.
Apesar do que ele diz, mesmo com dor de cabeça - ou mesmo por casa dela - Pessoa é um prosador estiloso. Tanto assim é que a imortalizou e anda aí pelo mundo, perene, perene. E é o mesmo Pessoa que perguntava a sua nininha, gosta de mim por ser eu ou por ser mim. O mesmíssimo.
ResponderEliminarO que mandava "jinhos, jinhos e mais jinhos" à "Bébézinha do Nininho-ninho".
EliminarO mesmíssimo.
Teresa, que impressionante essa obra pictórica acima! Bem, acho que vais fazer uma leitura excepcional, vais ter o curioso contato com a nobre e complexa alma - a humana! E o que vier dele, deverá te fazer pensar muito. Ele sempre nos leva a muitos lugares nunca imaginados. E pensamos.
ResponderEliminarBeijo, querida.
Olá, dizem os poetas que sem poesia não há expressão de sentimentos.
ResponderEliminarfeliz fim de semana,
AG
E uma dor de cabeça pode ser mesmo um grande desassossego...
ResponderEliminarGrande Fernando Pessoa. É um gosto lê-lo.
Teresa, um bom fim de semana.
Abraço.
Fernando Pessoa. É sempre tão gostoso lê-lo...
ResponderEliminarBeijos.
Ual!
ResponderEliminarQue delícia ler algo tão
expressivo.
As vezes, viver dói, mas só
as vezes...
Amo ler aqui e aguardo sua presença
na festa de aniversario de
7 anos do Espelhando.
Bjins
CatiahoAlc.
Aí como são "tramadas" as dores de cabeça.
ResponderEliminarÉ sempre um prazer ler Fernando Pessoa.
Beijinhos
Maria de
Divagar Sobre Tudo um Pouco