Quina amava o mundo… criou asas, sem jamais poder voar…
"Aos quinze anos foi acometida duma síncope grave, prelúdio de uma longa doença.
A enferma foi cercada de mimos, de mal disfarçadas venerações.
Ela, tão pouco dada a afagos…
Ela, que até ali julgara prescindir dos respeitos, das atenções, do amor, que apenas fora uma rapariguinha activa na obediência, apagada mesmo por ser demasiado exacta, por temer salientar-se, incorrer em faltas, suscitar uma crítica, um reparo nem que fosse de louvor, compreendeu como a sua natureza vibrava com o afecto, a admiração, e como se expandia em energias apaixonadas, até derramar em volta uma influência de simpatia, de força, de irrecusável imperativo. Ela compreendeu isto, não pela razão, mas pelo sentimento. Sentiu que não podia perder jamais aquele privilégio que subitamente a revelava como algo de distinto e à parte de todos os outros. A doença fez-se invalidez, estorvo para o regresso à vida normal que a devolveria à mediocridade e à sombra; adquiriu uma forma de se expressar sibilina e delicada, que deixava suspensos os ouvintes, as almas estremecendo numa volúpia de inquietação, curiosidade e esperança."
“A Sibila”- Prémio Eça de Queiroz, 1954 - narra a história de três gerações da família Teixeira, agricultores proprietários da secular casa de Vessada, na zona de Amarante,
Em dezanove capítulos, uma sucessão de acontecimentos desvenda as venturas e as desventuras da família, no período compreendido entre 1850 e 1950: o primeiro encontro e casamento de Francisco Teixeira e Maria Encarnação; a perda das três primeiras gravidezes de Maria; o incêndio da Vessada; o nascimento dos filhos Justina (Estina), Joaquina Augusta (Quina), Balbina, Abílio, João e Abel; as adversidades que levam a Vessada à falência, muito por culpa da irresponsabilidade e fanfarronice estroina de Francisco Teixeira, homem volúvel, fraco, mulherengo.
No centro da narrativa está Joaquina Augusta (Quina, a Sibila), a criança que cresce excluída de carinhos, a mulher de virtude, pequenina, tímida, de feições rudes, trabalhadora, influente, vingativa, ambiciosa, dominadora que, mesmo na condição de paralisada, readquire o património perdido, investe em novas propriedades, restaura a casa onde nasceu.
Aos cinquenta e nove anos, Quina, no apogeu das suas faculdades de administradora de propriedades e riquezas em rendosos dinheiros, solteira, apesar da grande corte de pretendentes é, por mérito próprio, dona e senhora da casa de Vessada, Ali morrerá, aos setenta e seis anos, no mais triste isolamento. Doente, recolheu-se ao sofrimento, sem avisar a família, sem aceitar a companhia de amigos. Na casa de Vessada, para ela sempre a doce evocação do pai, nada receava.
Aos cinquenta e nove anos, Quina, no apogeu das suas faculdades de administradora de propriedades e riquezas em rendosos dinheiros, solteira, apesar da grande corte de pretendentes é, por mérito próprio, dona e senhora da casa de Vessada, Ali morrerá, aos setenta e seis anos, no mais triste isolamento. Doente, recolheu-se ao sofrimento, sem avisar a família, sem aceitar a companhia de amigos. Na casa de Vessada, para ela sempre a doce evocação do pai, nada receava.
Em testamento ela indicou Germa, a sobrinha mais amada, sua herdeira absoluta.
A Custódio coube o usufruto de duas propriedades acrescentadas ao património da família.
Mas quem é Custódio? Eu sei, mas não desvendo.
Leia o romance e alguém lho apresentará...
- Viva a voeirinha, a sibila!
A Sibila, de Agustina Bessa-Luís
Guimarães Ed., 1954
249 págs.
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