Qualquer vida humana tem um significado incalculável.
Se gosta de ler pequenas histórias bem imaginadas, bem contadas, hilariantes e viciantes, tem de ler este livro de Milan Kundera, escrito entre 1958 e 1968 mas actualíssimo.
Não se deixe enganar pela ligeireza do título – “O livro dos amores risíveis” – pois o tema, comum às sete histórias, é sério e gerador de grande polêmica: o relacionamento humano.
Os títulos nada dizem sobre o conteúdo divertidíssimo das histórias:
. Ninguém se vai rir
. A maçã de outo do eterno desejo
. A falsa boleia
. O colóquio
. Que os velhos mortos deem lugar aos jovens mortos
. O doutor Havel vinte anos depois
. Edouard e Deus
Leia uma a uma, devagar, devagarinho. Saboreie o rigor da narrativa irônica e mordaz numa escrita impecável. Encontrará situações divertidíssimas, diálogos brilhantes, personagens convincentes, muita sedução, muito sexo, desejo, amor, ilusão, traição, solidão.
Também encontrará, lá pelo meio, revelações angustiantes, menos risíveis. Não é assim a vida? Feita de amores e desamores? Feita de sorrisos amargos?
Não, não vou desvendar a trama das histórias. Vou deixar que as leia para sorrir tanto quanto eu sorri.
Bom, com “Ninguém se vai rir”, a primeira, eu não sorri, eu soltei boas e sonoras gargalhadas. É umas das histórias mais engraçadas que eu já li (e já li muitas!). Dificilmente esquecerei o azarado professor de História de arte.
De “O colóquio” retirei este diálogo de dois amantes, porque gostei:
“- Elisabeth, Elisabeth, minha querida. Trouxe estas rosas para ti.
Elisabeth olhava para Fleischman boquiaberta e disse:
- Para mim?
- Sim, para ti. Porque me sinto feliz por estar aqui contigo. Porque me sinto feliz por tu existires. Elisabeth. Talvez te ame. Talvez te ame muito. Mas é talvez mais uma razão para nos ficarmos por aqui. Penso que um homem e uma mulher se amam mais quando não vivem juntos e quando só sabem um do outro uma única coisa: que existem e que se sentem reconhecidos, um ao outro, por existirem e saberem que existem. E isto basta-lhes para serem felizes. Obrigado, Elisabeth, obrigado por existires.
Elisabeth não entendia nada mas sorria com um sorriso alvar, um sorriso estúpido, cheio de uma vaga felicidade e de uma vaga esperança.”
É assim… noventa e nove por cento das palavras que se pronunciam são palavras vãs.
Há que esquecer, rir, e seguir em frente.
Eu ri, ri, ri com estes amores risíveis. Leia também e divirta-se.
(Comprei pela primeira vez “O livro dos amores risíveis” em 1990, numa edição da Dom Quixote. Em 1998, emprestei-o e “perdi-o” para sempre. Comprei agora esta edição da BIS (Leya).
Por onde andará o meu primeiro amor (risível)... perdão, livro?!)
Por onde andará o meu primeiro amor (risível)... perdão, livro?!)
O livro dos amores risíveis, de Milan Kundera
Ed. BIS (Leya), 2014
255 págs.
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