13 março, 2015

"Na rua das lojas escuras" - Patrick Modiano

Quem sou eu?
A pergunta não é minha, é de Guy Roland, personagem-narrador de “Na rua das lojas escuras”.
Quem é Patrick Modiano?
Esta fiz eu, quando ouvi o nome do galardoado com o Prémio Nobel de Literatura 2014.
Sim, porque até àquele exacto momento nunca ouvira falar de Patrick Modiano. (Falha minha ou das editoras portuguesas, mas isso não interessa para aqui).
Surpreendida, curiosa (e triste por ver de novo o meu escritor preferido afastado), procurei nas livrarias razões que justificassem a atribuição do prémio ao francês desconhecido. E encontrei vários romances. E decidi lê-los todos. E comecei por "Na rua das lojas escuras" (1978), porque gostei do título.
Trata-se de um policial. Mas um policial diferente. Um policial onde um detective privado não investiga um crime, mas o seu próprio passado.
Começa assim, pela voz de Guy:
Não sou nada. Nada mais que uma silhueta clara, naquela noite. Na esplanada de um café. Esperava que parasse a chuva…
Depois, sabemos que Guy acabou de perder o emprego numa agência de detectives privados especializada na recolha de «informações mundanas».
Naquela noite, o dono e fundador da C.M. Hutte - Investigações particulares, fechou pela última vez a porta da agência. Decidira reformar-se.
Foi por aquela mesma porta que entrou, há oito anos atrás, um homem sem nome em busca de testemunhos ou vestígios do seu passado. Uma amnésia repentina deixara-o vazio, sem identidade.
O detective que o ouviu, o próprio Hutte, comoveu-se com a história e arranjou-lhe uma nova identidade e convidou-o para trabalhar com ele, na agência.
Meu caro «Guy Roland», a partir de agora, não olhe mais para trás; pense no presente e no futuro. Proponho-lhe que trabalhe comigo…
E trabalharam juntos mais de oito anos.
Na despedida, Hute perguntou:
- Guy, o que é que vai fazer?
- Eu? Ando a seguir uma pista.
- Uma pista?
- Sim. Uma pista do meu passado…
- Sempre pensei que um dia você havia de tornar a encontrar o seu passado… mas sabe, Guy, pergunto-me se valerá realmente a pena…
Na despedida entregou-lhe uma chave da Agência.
- Pode lá ir de vez em quando. Gostava muito que o fizesse. E dê-me notícias… sobre o seu passado.
Se vale ou não a pena investigar só a Guy interessa e ele vai mesmo seguir a pista do seu passado.
O que descobre?
Claro que não vou divulgar, mas você pode investigar nas 175 páginas seguintes.
E se chegar à página 185, a última, verá que a Guy só falta voltar à sua antiga casa, em Roma, na rua das Lojas Escuras, nº 2.

Gostei? Não!
Devia ter escolhido outro romance? Talvez!
O que vou fazer com os restantes? Lê-los, claro!
E esperar que histórias confusas e entediantes fiquem todas na rua das lojas escuras.
Ufa!

Na rua das lojas escuras, de Patrick Modiano - Prémio Nobel de Literatura, 2014
Tradução de Ana Luísa Faria e Miguel Serras Pereira
Ed. Relógio d’Água, 1988
185 págs.

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