O dinheiro falava, e na medida em que o escutássemos e obedecêssemos aos seus argumentos, aprenderíamos a linguagem da vida.
Imagina Paul Benjamin Auster (n.1947) – um dos nomes grandes da literatura norte-americana - a “apertar o cinto”? Não?
Pois isso aconteceu mesmo, como ele conta neste relato autobiográfico intimista, comovente e muito divertido.
"Entre os meus vinte anos e o início dos trinta, atravessei um período de vários anos em que tudo aquilo em que tocava se transformava num fracasso: o meu casamento terminou em divórcio, o meu trabalho como escritor soçobrou e vivi assoberbado por problemas de dinheiro. Não estou a falar de uma simples e ocasional escassez de fundos ou de alguma necessidade periódica de apertar o cinto, mas sim de uma falta de dinheiro contínua, crónica, opressiva, quase asfixiante, que me envenenava a alma e me mantinha num estado de pânico interminável.
Não podia culpar ninguém a não ser a mim próprio."
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"Provenho de uma família da classe média. A minha infância foi desafogada e nunca conheci nenhuma das carências e privações que afligem a maior parte dos seres humanos que vivem nesta terra. Nunca passei fome, nunca passei frio, nunca me senti em perigo de perder as coisas que tinha. (…) O meu pai era agarrado; a minha mãe esbanjadora. Ela gastava; ele não."
E ainda mais.
"Em rapaz, enquadrei-me no papel do fura-vidas clássico. Ao primeiro sinal de neve, começava a tocar às campainhas e perguntava às pessoas se queriam contratar-me para lhes desimpedir a entrada (…) Em Outubro, quando as folhas caíam, lá estava eu com o meu ancinho: tocava às mesmas campainhas e perguntava se queriam que limpasse os relvados (…) No verão, vendia limonada a dez cêntimos o copo no passeio defronte da minha casa."
Paul Auster, o escritor de sucesso, no seu melhor!
(Voltarei a este livro.)
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