12 outubro, 2012

"Filho de Deus" - Cormac McCarthy


Se lhe fosse dada a oportunidade Ballard tornaria as coisas mais ordenadas nas matas e na alma dos homens.
Uau! A história de vida de Lester Ballard - mais uma poderosa personagem imaginada por Cormac McCarthy - deixou-me verdadeiramente aturdida.
Eu sei que por vezes devemos sair do conforto das “historinhas” e mergulhar em histórias mais sérias que nos façam pensar e pensar à medida que vamos lendo. Eu sei e tento fazê-lo. Mas esta história…
Esta história é arrepiante, pela violência dos crimes perpetrados por Lester Ballard, um vagabundo solitário, psicologicamente desequilibrado, dotado de uma imaginação fértil, cruel e pervertida, um filho de Deus, quem sabe se em tudo semelhante a você mesmo.
E é isso que arrepia.
Lester Ballard foi abandonado pela mãe aos nove anos. O pai enforcou-se de seguida. Era filho único. Tiraram-lhe a casa dos antepassados. A sociedade afastou-o e ignorou-o. Ele torna-se selvagem, solitário, violento, cruel.
Ocupa os dias deambulando por estradas, montanhas e florestas, espreitando a sua antiga casa e o novo dono. Comete crimes macabros e esconde os corpos em grutas inacessíveis e satisfaz taras sexuais com os cadáveres das mulheres.
Todos desconfiam que é ele o assassino mas os corpos não aparecem e não o podem acusar.
Sr. Ballard… de duas uma: ou muda de vida ou então se quiser continuar como até aqui vai ter que procurar outro sítio no mundo para se enfiar.
Não. Ballard não vai mudar de vida. Ballard vai continuar a deambular pelas matas noite e dia, a roubar, a matar, a esconder os corpos no ventre das montanhas e a falar consigo próprio até ser estendido numa laje e esfolado, eviscerado, dissecado numa escola médica.
Estranho!
Estranho, mesmo muito estranho, é ficarmos presos da primeira à última linha desta espantosa história de violência e sentirmos, até, compaixão por um ser humano reles e cruel – que nunca aprendeu a relacionar-se com os outros e se tornou violento para sobreviver.
Só mesmo Cormac McCarthy consegue esta magia.
Achas que as pessoas eram piores nessa altura do que são agora?
Não acho. Acho que as pessoas são as mesmas desde o dia em que Deus fez a primeira.
Gostei!
 
Filho de Deus, de Cormac McCarthy
Relógio d’Água, 1994
Tradução de Paulo Faria
193 págs.

2 comentários:

  1. Ainda não consegui encontrar este... mas está definitivamente na minha wish-list... ando de roda do João Tordo, As três Vidas e já agora o resumo das histórias do Mo Yan despertam o interesse (:

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    1. Este livro é, como todos os outros do autor, bom!
      Nunca li João Tordo.
      Aguardo Mo Yan.
      Boas leituras.

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