A letra de Deus nem sempre é decifrável e ninguém conhece a língua em que escreveu a alma humana.
Que início extraordinário para um romance extraordinário.
Romance que é o balanço de uma vida. Uma vida de alguém que se procura no amor humano.
Esse alguém é Francisco - narrador e personagem central – que ao entrar naquele que poderá ser o último ciclo da sua vida, logo o mais decisivo, faz uma paragem para compreender e pôr em ordem o passado, e partir de novo em busca do caminho que vai dar ao amor.
Sim, porque para ele a vida é feita de ciclos: quando um se fecha logo outro se inicia.
Para ele, esses ciclos são feitos de sonhos, desejos, ambições, escolhas, encontros, desencontros e muitas histórias de amor - o amor que se confunde com o próprio destino.
A gente não pode perder a esperança na realização dos sonhos e temos de manter isso até à hora da morte.
Para ele, a vida é a conquista da liberdade, numa aprendizagem constante da espécie humana.
… a gente vai aprendendo, aprendendo, e, quando já está a saber quase tudo, morre…
Então, no Outono da vida, Francisco "volta" ao passado e recorda viagens, factos históricos, a família, os amigos, e principalmente os momentos de intimidade com várias mulheres, todas elas cúmplices da mesma procura - a felicidade.
- Rita: eu acho que Deus tem assim um sorriso com o teu quando nos vê amargurados…
- E eu acho que ele se ri mas é daqueles que andam por aí, muito contentes e convencidos, a fazerem o mundo como está…
Que bem escreve António Alçada Baptista sobre as mulheres: pura poesia.
Que bom foi reler este livro e “ouvir” de novo Francisco falar sobre a Rosa, a Marina, a Hannah, a Rita, a Claire…
Que belo e inteligente romance.
Aconselho a sua leitura a homens, claro, mas principalmente às mulheres.
Possivelmente, o amor continua a chamar-nos do centro do labirinto e nós andamos às voltas sem sermos capazes de o encontrar.
Fabuloso!
O riso de Deus, de António Alçada Baptista
Ed. Presença, 1994
206 págs.
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