27 abril, 2012

"Corre, Coelho" - John Updike

Como um barco à deriva. Continua a bater nas mesmas rochas…
“Corre, Coelho” (Rabbit Run), foi editado pela primeira vez em 1960 e é o primeiro de 4 volumes da série dedicada à personagem Harry (Rabbit) Angstrom, que Updike escreveu ao longo de cerca de 30 anos.
Considerado um clássico de culto da literatura americana, a leitura de “Corre Coelho” – uma crónica avassaladora do comportamento humano na sociedade conservadora americana dos anos sessenta - não é fácil e tem de ser feita com calma, sem correrias.
Ao longo de 301 páginas espreitamos a vida sufocante e insignificante de Harry (Coelho) Angstrom. E que vida…
Harry, vinte e seis anos, antiga estrela do basquetebol no liceu, vive nos subúrbios da Pensilvânia e ganha a vida a fazer demonstrações com a MagiPeeler, uma máquina destinada a facilitar a vida na cozinha à típica dona de casa americana. Harry está casado com Janice, uma mulher frágil, desajeitada e alcoólica que espera a vinda do segundo filho.
Logo no início do romance, Harry sai de casa para ir buscar o filho Nelson à avó, quando a mulher o chama da cozinha onde prepara o jantar e lhe diz:
- Querido, trazes-me por favor um maço de cigarros?
Harry sai… e não volta.
Ao volante do seu Ford conduz através da noite cerrada, numa fuga desesperada em busca de uma vida melhor.
Pelo caminho vai encontrar-se com Marthy Tothero, o antigo treinador, vai viver com Ruth , uma prostituta a meio tempo, e vai desabafar com o clérigo Jack Eccles, que o tenta convencer a voltar para casa.
- Então pensa que Deus quer que faça sofrer a sua mulher?
- Deixe-me perguntar-lhe: pensa que Deus quer que uma queda-d’água seja uma árvore?
- Não, diz Eccles depois de pensar. – Mas julgo que ele deseja que uma pequena árvore se transforme numa grande árvore.
O medo, o remorso e o orgulho em ser de novo pai, levam Harry a abandonar Ruth e a voltar para casa na altura do nascimento da filha Rebecca.
Tudo se compõe. Reata a relação com a família e o sogro oferece-lhe um emprego num dos seus stands.
O caminho em linha recta estende-se direito em frente de Harry, sem os obstáculos que tinha imaginado.
Mas não é verdade e Harry abandona de novo a família, volta para Ruth e de novo volta a fugir dela. Corre Coelho. Ah corre! Corre!
Fabuloso!

Corre, Coelho, de John Updike
Civilização Editora, 2006
Tradução de Carmo Romão
301 págs.

1 comentário:

  1. Nunca li nenhum livro deste escritor! Mas a vida desse "Coelho" parece-me muito semelhante à de tantos outros, sempre indecisos sobre o rumo a seguir... (e não, não é nenhuma piada política!)

    Beijocas e bom fim de semana!

    ResponderEliminar