POEMA SÁFARO
Todos os poemas são feitos
com o ouro das horas disponíveis.
Depois de penteado o poeta
das suas partes mais sensíveis
extrai um vapor de tristeza
e com essa matéria forma
a melancólica gentileza
de um hóspede a quem afaga
as mãos debaixo da mesa.
Fazer poemas enquanto se mata
durante a cópula quando faminto
esses nunca os vi fazer.
A poesia é sempre em vez
mênstruo de alma uma vez por mês
sangrenta flor abortada
da natureza infecundada.
Poema de Natália Correia, Portugal (1923-1993)
Pintura de Paula Rego, Portugal (1935-)
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