O artista deve conseguir fazer a posteridade acreditar que nunca existiu. (Flaubert)
“O papagaio de Flaubert”, publicado originalmente em 1984, foi o primeiro grande sucesso literário de Julian Barnes, escritor inglês vencedor do Man Booker Prize 2011, pelo romance “O sentido do fim”.
Reeditado pela Quetzal há dois meses, foi a minha última leitura de 2019. E, porque aprendi muito sobre Gustave Flaubert (1821-1880), autor de “Madame Bovary” (por muitos considerado «o romance dos romances») e me diverti com o palavreado desempoeirado do narrador protagonista (a voz do escritor), escolhi-o para primeira postagem sobre livros, de 2020.
Trata-se de um romance fascinante sobre literatura, escritores, crítica literária¸ arte, talento, ficção e realidade; sobre política, morte, amor, amizade, ciúme, adultério, dedicação, solidão, loucura, família; sobre vestidos de mulher, beleza, estilo, compotas de groselha, comboios, animais, e muito, muito mais.
Vou ser um rei, ou apenas um porco? (Flaubert)
Geoffrey Braithwaite (narrador protagonista) - médico inglês reformado, viúvo recente -, viaja para a terra natal de Gustave Flaubert com a intenção de ver o papagaio embalsamado que o romancista manteve na sua mesa de trabalho enquanto escrevia “Um Coeur Simple”, e que serviu de modelo para Lulu, o papagaio de Félicité, a personagem principal do conto. «Félicité + Lulu = Flaubert?»
Após a viagem, Braithwaite (biógrafo amador) atenua a solidão recolhendo dados sobre a vida, obra e época de Flaubert, seus desfeitos, manias, tiques, segredos, vaidades e medos. Assim preenche as horas de solidão. «Os livros não são a vida, por mais que gostássemos que fosse.»
Atraio os loucos e os animais. (Flaubert)
O resultado é este ensaio/biografia/romance genial sobre Gustave Flaubert. Uma mistura encantadora de realidade com ficção. Duas histórias de vida: do biografado e do biógrafo. Duas histórias de amor: entre Flaubert e Louise Colet; entre Braithwaite e a mulher Ellen. Um repositório fantástico de citações de Flaubert, de outros escritores e pensadores. Uma narrativa alucinante e confusa, mas ao mesmo tempo harmoniosa, feita de histórias desconexas (parecem), humor e sátira, que me manteve interessada e divertida da primeira à última página.
Este é um livro incomum, impossível de resumir. Um livro sedutor que terminei de ler e logo me apeteceu reler.
“Um entretenimento literário levado a cabo com muito brio”, (The New York Times Book Review).
Levar a vida a sério será magnífico ou estúpido? (Flaubert)
(“Flaubert ensina-nos a olhar para a verdade e a não temer as suas consequência; ensina-nos, como Montaigne, a dormir na almofada da dúvida; ensina-nos a não nos aproximarmos de um livro em busca de pílulas morais ou sociais; ensina a superioridade da Verdade, da Beleza, do Sentimento e do Estilo. E, se estudarmos a sua vida privada, ensina a coragem, o estoicismo, a amizade; a importância da inteligência, do ceticismo e da imaginação; a palermice do patriotismo barato; a virtude de ser capaz de ficar sozinho no quarto; o ódio à hipocrisia; a desconfiança nas teorias; a necessidade de falar com simplicidade.”)
Recomendo, claro!
(Agora... vou reler "Madame Bovary".)
"O papagaio de Flaubert", de Julian Barnes
Tradução de Ana Maria Amador
Quetzal Editores, 2019
247 págs.
Eu e os outros participantes do grupo de leitura da biblioteca lemos “A Única História” deste autor.
ResponderEliminarEsse creio que não o li ainda.
Vale a pena reler Madame Bovary. Quem diria na altura que este livro acabaria por ser considerado a obra-prima de Flaubert...
Não li "A Única História". Pesquisei na net e fiquei encantada com o que encontrei sobre a trama. Tenho de ler! (Obrigada pela dica.)
Eliminar"O papagaio de Flaubert" é delicioso! Vou tê-lo à mão durante muito tempo.
Beijo, bom domingo.
Acredito, e mto, nas tuas palavras, Teresa. Não li, nem conhecia, o livro de que aqui falas, mas sei algumas coisitas -rs sobre Flaubert, k adorei ler em tempos idos. "Madame Bovary", um luxo! Tenho-o na estante, k estás atrás das minhas costas. É bom recordar.
ResponderEliminarBeijos e bom fim de semana.
Não li e, para já, não vou ler. Tenho alguns livros em espera e além disso terei de ler alguns outros até finais de Abril. Mas é bom saber que há um título que posso comprar à confiança:).
ResponderEliminarBom fim de semana, Teresa
Está visto que tenho que voltar a ler “O papagaio de Flaubert” que já li em tempos idos e que agora mo recordas aqui. As duas histórias: do biografado e do biógrafo deixa-me a pensar que é mesmo o género de livros que eu gosto…
ResponderEliminarUm bom fim de semana, minha Amiga Teresa.
Um beijo.
Oi, amadinha, olha a hora, aqui são 11:35, aí em Portugal estás num profundo sono. Gostei da tua sinopse, não li o livro, ainda, mas está anotado.
ResponderEliminarQuanto a levar a vida muito a sério, acho que não, ser verdadeira, sempre, e arcar com as consequências é o mínimo que devemos fazer para não tornar nossa vida um inferno. Aqui no Brasil se diz que ser verdadeiramente um malandro, é fazer as coisas certas, não dá golpe em ninguém, esses, jamais se incomodarão. O malandrinho de morro, vai padecer muito, pensa em tirar proveito de todos, acabará se lascando, tudo é descoberto, a verdade sempre vem à tona.
Beijo grande, saudadinhas!
Já que a Tais te tratou por " amadinha ( super carinhosa ) eu vou chamar-te por queridinha que também é doce e, neste frio que estamos a viver no nosso pais, estas doçuras e mimos ajudam a suporta o frio, pois esquentam a alma. Queridinha, tenho uma pilha de livros na sala, prontos a serem tratados como merecem, ou seja, desejosos que eu os leia; o meu sobrinho, do Brasil, quando veio cá, no verão , trouxe-me alguns, pois lê muito e sabe que a tia gosta de ler, mas, cadê o tempo? De tarde pego a Beztriz no infantário, logo no fim do almoço, para que a coitadinha não fique lá muito tempo e depois é só ela a " passarinhar " de um lado para outro e eu atrás dela, A vida da tua amiga está assim. Quanto a este escritor, li a madame de Bovary e gostei muito, mas, como acontece com a maioria dos livros, tenho que o voltar a ler. Quanto ao Papagaio, não prometo que o vou comprar, porque primeiro tenho que arrumar estes que estão à minha espera.. Bem...como também ando atrasada nas minhas visitas, vou-te deixar e " voar" para outro canto antes que o sono chegue. Um abraço apertadinho daqueles nossos, esperando que ele te aqueça nesta noite gélida, Estou tão cansada deste frio, Teresa!!! Inté...( como dirá a tua amadinha)
ResponderEliminarEmilia
Minha querida Emilia, começo por agradecer o tratamento «queridinha", que tocou o meu coração. Já me conheces bem, amiga!
EliminarAdoro mimar e ser mimada. Sou carente, confesso! Mimo tive muito do meu pai - a melhor e mais docinha pessoa que conheci. Já da minha mãe...
Fui depois muito mimada por duas sogras. Duas sogras, dois maridos, um mais doce que o outro... O primeiro ou o segundo? Não digo!
(Já estou a ouvir a amiga Tais, «escreve sobre isso...»)
Emilia, se vivêssemos perto uma da outra lerias todos os meus livros. Não necessitas de muito tempo: basta 30 minutos por dia. Acredita!
Há novidades sobre a tua mãe?
Bem, sobre o frio... hoje está demais! Detesto o inverno!!!!
Beijos e abracinhos apertadinhos. O teu aqueceu o meu coração.
Teresa, a Taís é mesmo uma " amadinha " Sendo ela a cronista conhecida em todo o mundo dos blogues, incentiva-nos a escrever crónicas; outra qualquer teria medo que lhe " tirassemos o lugar" e até era capaz de se ofender se, por acaso, passassemos a fazer o mesmo. É mesmo uma fofa, a nossa Amiga e por isso gosto tanto dela. Comigo também insiste muito, mas..é preciso ter o jeito dela, tratando o quotidiano sempre com uma pitada de humor. Não é para qualquer um e eu delicio-me com os escritos dela. Cronista já há uma e chega! Desculpa a intromissão, queridinha, mas, sabes como sou...adoro uma conversinha.
EliminarAlém de detestar o inverno, estou cansadinha dele; tolhe-me até o pensamento. Um beijão
Emilia
rssss, vocês são muito queridas, amigas e generosas, como não querer um enorme bem dessas duas figurinhas amadas?
EliminarE sou muito verdadeira em incentivá-las nas crônicas, percebi isso há tempos! Só estou esperando que se resolvam. A Teresa já andou entrando no esquema, e foi uma delícia ler, só falta a Emília!
Beijinhos, amadas.
Juntas sempre.
Tenho vários livros de Julian Barnes na estante, entre eles O Papagaio de Flaubert. Escrevi um trabalho sobre Madame Bovary.
ResponderEliminarContinuação de boas leituras 📚
Guardo a(s) dica(s).
ResponderEliminarTua e os que comentam.
Bjs, boa semana
Eu não o livro mas já deixei anotada a sua valiosa dica
ResponderEliminarBeijinhos e uma feliz semana
Preciso ler Flaubert...
ResponderEliminarUm excelente escritor, li o livro dele O Sentido do Fim e gostei bastante.
ResponderEliminarUm abraço e continuação de uma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Poderá parecer heresia, depois de tantos elogios à obra de Julian Barnes, dizer que o meu encontro com o livro não foi uma boa experiência de leitura, deixando-me a bocejar com a interminável descrição de factos e anedotas sobre Gustave Flaubert.
ResponderEliminarA impressão que o protagonista do Papagaio de Flaubert causou em mim foi o de um narrador que evitou intencionalmente suas próprias experiências traumáticas, deslocando a sua energia para uma narração interminável de curiosidades sobre Flaubert - desde uma cronologia da vida de Flaubert sob vários pontos de vista, uma exposição da relação de Flaubert com animais na sua vida e obra, um discurso sobre a descrição de Flaubert dos olhos de Emma Bovary, as visitas de Flaubert a Inglaterra, o ódio de Flaubert por comboios, os livros que ele planeou, mas não conseguiu escrever, a história da amante de Flaubert, uma refutação das críticas sobre o que Flaubert representa e assim por diante.
Olá Joaquim!
EliminarEu não bocejei com a «interminável descrição de factos» sobre Gustave Flaubert. Gostei do que li, independente da narrativa ser feita de saltos temporais que nos confundem no início da leitura.
Concordo, o narrador mergulhou numa exaustiva pesquisa da vida de Flaubert para esquecer a sua, que ele, com algum humor, vai desvendando.
As curiosidades desvendaste tu, eu deixei que fossem os leitores a encontrá-las no livro.
A bocejar ando eu com o último livro de um escritor português que muito admiro. Acontece!
Beijo, bom fim-de-semana.
Olá, Teresa!
ResponderEliminarGustave Flaubert foi, sem dívida, um extraordinário romancista, e o seu famoso romance Madame Bovary, tem resistido à ferrugem do tempo.
É um dos romances de minha predileção. Minha primeira leitura foi ainda na adolescência, depois voltei a ele, bem mais tarde, por duas vezes. A cada leitura que fazia aumentava minha admiração por Flaubert e pelo seu romance.
Parabéns, querida amiga pelo belo trabalho, que deve estimular a muitos a ler Madame Bovary.
Um bom final de semana, Teresa.
Um beijo.
Pedro