17 janeiro, 2020

"O papagaio de Flaubert" - Julian Barnes


O artista deve conseguir fazer a posteridade acreditar que nunca existiu. (Flaubert)
O papagaio de Flaubert”, publicado originalmente em 1984, foi o primeiro grande sucesso literário de Julian Barnes, escritor inglês vencedor do Man Booker Prize 2011, pelo romance “O sentido do fim”.
Reeditado pela Quetzal há dois meses, foi a minha última leitura de 2019. E, porque aprendi muito sobre Gustave Flaubert (1821-1880), autor de “Madame Bovary” (por muitos considerado «o romance dos romances») e me diverti com o palavreado desempoeirado do narrador protagonista (a voz do escritor), escolhi-o para primeira postagem sobre livros, de 2020.
Trata-se de um romance fascinante sobre literatura, escritores, crítica literária¸ arte, talento, ficção e realidade; sobre política, morte, amor, amizade, ciúme, adultério, dedicação, solidão, loucura, família; sobre vestidos de mulher, beleza, estilo, compotas de groselha, comboios, animais, e muito, muito mais.
Vou ser um rei, ou apenas um porco? (Flaubert)
Geoffrey Braithwaite (narrador protagonista) - médico inglês reformado, viúvo recente -, viaja para a terra natal de Gustave Flaubert com a intenção de ver o papagaio embalsamado que o romancista manteve na sua mesa de trabalho enquanto escrevia “Um Coeur Simple”, e que serviu de modelo para Lulu, o papagaio de Félicité, a personagem principal do conto. «Félicité + Lulu = Flaubert?»
Após a viagem, Braithwaite (biógrafo amador) atenua a solidão recolhendo dados sobre a vida, obra e época de Flaubert, seus desfeitos, manias, tiques, segredos, vaidades e medos. Assim preenche as horas de solidão. «Os livros não são a vida, por mais que gostássemos que fosse.»
Atraio os loucos e os animais. (Flaubert)
O resultado é este ensaio/biografia/romance genial sobre Gustave Flaubert. Uma mistura encantadora de realidade com ficção. Duas histórias de vida: do biografado e do biógrafo. Duas histórias de amor: entre Flaubert e Louise Colet; entre Braithwaite e a mulher Ellen. Um repositório fantástico de citações de Flaubert, de outros escritores e pensadores. Uma narrativa alucinante e confusa, mas ao mesmo tempo harmoniosa, feita de histórias desconexas (parecem), humor e sátira, que me manteve interessada  e divertida da primeira à última página.
Este é um livro incomum, impossível de resumir. Um livro sedutor que terminei  de ler e logo me apeteceu reler.
“Um entretenimento literário levado a cabo com muito brio”, (The New York Times Book Review).

Levar a vida a sério será magnífico ou estúpido? (Flaubert)

(“Flaubert ensina-nos a olhar para a verdade e a não temer as suas consequência; ensina-nos, como Montaigne, a dormir na almofada da dúvida; ensina-nos a não nos aproximarmos de um livro em busca de pílulas morais ou sociais; ensina a superioridade da Verdade, da Beleza, do Sentimento e do Estilo. E, se estudarmos a sua vida privada, ensina a coragem, o estoicismo, a amizade; a importância da inteligência, do ceticismo e da imaginação; a palermice do patriotismo barato; a virtude de ser capaz de ficar sozinho no quarto; o ódio à hipocrisia; a desconfiança nas teorias; a necessidade de falar com simplicidade.”) 

Recomendo, claro!
(Agora... vou reler "Madame Bovary".)

"O papagaio de Flaubert", de Julian Barnes
Tradução de Ana Maria Amador
Quetzal Editores, 2019
247 págs.

18 comentários:

  1. Eu e os outros participantes do grupo de leitura da biblioteca lemos “A Única História” deste autor.
    Esse creio que não o li ainda.
    Vale a pena reler Madame Bovary. Quem diria na altura que este livro acabaria por ser considerado a obra-prima de Flaubert...

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    1. Não li "A Única História". Pesquisei na net e fiquei encantada com o que encontrei sobre a trama. Tenho de ler! (Obrigada pela dica.)
      "O papagaio de Flaubert" é delicioso! Vou tê-lo à mão durante muito tempo.
      Beijo, bom domingo.

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  2. Acredito, e mto, nas tuas palavras, Teresa. Não li, nem conhecia, o livro de que aqui falas, mas sei algumas coisitas -rs sobre Flaubert, k adorei ler em tempos idos. "Madame Bovary", um luxo! Tenho-o na estante, k estás atrás das minhas costas. É bom recordar.

    Beijos e bom fim de semana.

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  3. Não li e, para já, não vou ler. Tenho alguns livros em espera e além disso terei de ler alguns outros até finais de Abril. Mas é bom saber que há um título que posso comprar à confiança:).
    Bom fim de semana, Teresa

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  4. Está visto que tenho que voltar a ler “O papagaio de Flaubert” que já li em tempos idos e que agora mo recordas aqui. As duas histórias: do biografado e do biógrafo deixa-me a pensar que é mesmo o género de livros que eu gosto…
    Um bom fim de semana, minha Amiga Teresa.
    Um beijo.

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  5. Oi, amadinha, olha a hora, aqui são 11:35, aí em Portugal estás num profundo sono. Gostei da tua sinopse, não li o livro, ainda, mas está anotado.
    Quanto a levar a vida muito a sério, acho que não, ser verdadeira, sempre, e arcar com as consequências é o mínimo que devemos fazer para não tornar nossa vida um inferno. Aqui no Brasil se diz que ser verdadeiramente um malandro, é fazer as coisas certas, não dá golpe em ninguém, esses, jamais se incomodarão. O malandrinho de morro, vai padecer muito, pensa em tirar proveito de todos, acabará se lascando, tudo é descoberto, a verdade sempre vem à tona.
    Beijo grande, saudadinhas!

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  6. Já que a Tais te tratou por " amadinha ( super carinhosa ) eu vou chamar-te por queridinha que também é doce e, neste frio que estamos a viver no nosso pais, estas doçuras e mimos ajudam a suporta o frio, pois esquentam a alma. Queridinha, tenho uma pilha de livros na sala, prontos a serem tratados como merecem, ou seja, desejosos que eu os leia; o meu sobrinho, do Brasil, quando veio cá, no verão , trouxe-me alguns, pois lê muito e sabe que a tia gosta de ler, mas, cadê o tempo? De tarde pego a Beztriz no infantário, logo no fim do almoço, para que a coitadinha não fique lá muito tempo e depois é só ela a " passarinhar " de um lado para outro e eu atrás dela, A vida da tua amiga está assim. Quanto a este escritor, li a madame de Bovary e gostei muito, mas, como acontece com a maioria dos livros, tenho que o voltar a ler. Quanto ao Papagaio, não prometo que o vou comprar, porque primeiro tenho que arrumar estes que estão à minha espera.. Bem...como também ando atrasada nas minhas visitas, vou-te deixar e " voar" para outro canto antes que o sono chegue. Um abraço apertadinho daqueles nossos, esperando que ele te aqueça nesta noite gélida, Estou tão cansada deste frio, Teresa!!! Inté...( como dirá a tua amadinha)
    Emilia

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    1. Minha querida Emilia, começo por agradecer o tratamento «queridinha", que tocou o meu coração. Já me conheces bem, amiga!
      Adoro mimar e ser mimada. Sou carente, confesso! Mimo tive muito do meu pai - a melhor e mais docinha pessoa que conheci. Já da minha mãe...
      Fui depois muito mimada por duas sogras. Duas sogras, dois maridos, um mais doce que o outro... O primeiro ou o segundo? Não digo!
      (Já estou a ouvir a amiga Tais, «escreve sobre isso...»)
      Emilia, se vivêssemos perto uma da outra lerias todos os meus livros. Não necessitas de muito tempo: basta 30 minutos por dia. Acredita!
      Há novidades sobre a tua mãe?
      Bem, sobre o frio... hoje está demais! Detesto o inverno!!!!
      Beijos e abracinhos apertadinhos. O teu aqueceu o meu coração.

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    2. Teresa, a Taís é mesmo uma " amadinha " Sendo ela a cronista conhecida em todo o mundo dos blogues, incentiva-nos a escrever crónicas; outra qualquer teria medo que lhe " tirassemos o lugar" e até era capaz de se ofender se, por acaso, passassemos a fazer o mesmo. É mesmo uma fofa, a nossa Amiga e por isso gosto tanto dela. Comigo também insiste muito, mas..é preciso ter o jeito dela, tratando o quotidiano sempre com uma pitada de humor. Não é para qualquer um e eu delicio-me com os escritos dela. Cronista já há uma e chega! Desculpa a intromissão, queridinha, mas, sabes como sou...adoro uma conversinha.
      Além de detestar o inverno, estou cansadinha dele; tolhe-me até o pensamento. Um beijão
      Emilia

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    3. rssss, vocês são muito queridas, amigas e generosas, como não querer um enorme bem dessas duas figurinhas amadas?
      E sou muito verdadeira em incentivá-las nas crônicas, percebi isso há tempos! Só estou esperando que se resolvam. A Teresa já andou entrando no esquema, e foi uma delícia ler, só falta a Emília!
      Beijinhos, amadas.
      Juntas sempre.

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  7. Tenho vários livros de Julian Barnes na estante, entre eles O Papagaio de Flaubert. Escrevi um trabalho sobre Madame Bovary.

    Continuação de boas leituras 📚

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  8. Guardo a(s) dica(s).
    Tua e os que comentam.
    Bjs, boa semana

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  9. Eu não o livro mas já deixei anotada a sua valiosa dica
    Beijinhos e uma feliz semana

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  10. Um excelente escritor, li o livro dele O Sentido do Fim e gostei bastante.
    Um abraço e continuação de uma boa semana.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    O prazer dos livros

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  11. Poderá parecer heresia, depois de tantos elogios à obra de Julian Barnes, dizer que o meu encontro com o livro não foi uma boa experiência de leitura, deixando-me a bocejar com a interminável descrição de factos e anedotas sobre Gustave Flaubert.
    A impressão que o protagonista do Papagaio de Flaubert causou em mim foi o de um narrador que evitou intencionalmente suas próprias experiências traumáticas, deslocando a sua energia para uma narração interminável de curiosidades sobre Flaubert - desde uma cronologia da vida de Flaubert sob vários pontos de vista, uma exposição da relação de Flaubert com animais na sua vida e obra, um discurso sobre a descrição de Flaubert dos olhos de Emma Bovary, as visitas de Flaubert a Inglaterra, o ódio de Flaubert por comboios, os livros que ele planeou, mas não conseguiu escrever, a história da amante de Flaubert, uma refutação das críticas sobre o que Flaubert representa e assim por diante.

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    1. Olá Joaquim!
      Eu não bocejei com a «interminável descrição de factos» sobre Gustave Flaubert. Gostei do que li, independente da narrativa ser feita de saltos temporais que nos confundem no início da leitura.
      Concordo, o narrador mergulhou numa exaustiva pesquisa da vida de Flaubert para esquecer a sua, que ele, com algum humor, vai desvendando.
      As curiosidades desvendaste tu, eu deixei que fossem os leitores a encontrá-las no livro.

      A bocejar ando eu com o último livro de um escritor português que muito admiro. Acontece!
      Beijo, bom fim-de-semana.

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  12. Olá, Teresa!
    Gustave Flaubert foi, sem dívida, um extraordinário romancista, e o seu famoso romance Madame Bovary, tem resistido à ferrugem do tempo.
    É um dos romances de minha predileção. Minha primeira leitura foi ainda na adolescência, depois voltei a ele, bem mais tarde, por duas vezes. A cada leitura que fazia aumentava minha admiração por Flaubert e pelo seu romance.
    Parabéns, querida amiga pelo belo trabalho, que deve estimular a muitos a ler Madame Bovary.
    Um bom final de semana, Teresa.
    Um beijo.
    Pedro

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