“O quarto é o homem elevado ao quadrado da desocultação. Por isso o quarto é quadrado. É a quadratura do círculo da nossa vida no algures exasperante de uma cor informulada.
O quarto é o sítio onde nos tornamos visíveis, onde, por contradição, adquirimos um corpo para que, estendidos a todo o seu comprimento, nos incendei a loucura de não cabermos nele. O quarto somos nós mesmos a escorrer entre os nossos dedos numa água de horas ainda vivas. É a lúcida devastação do corpo que ao incendiar-se multiplica-se em pequenas labaredas cantantes. São os fantasmas. Eis porque o quarto é um lugar mal-afamado, frequentado por gente duvidosa em sua verídica substância de impudicas aparições, introduzindo-nos na boca um peixe de sons prateados que nos vicia no além. Porque o quarto felizmente nos recolhe numa arrepiada maçaroca de sentidos aberto por relâmpagos de palavras indizíveis. Porque o quarto é um fumo intencionado a saída de um poço, oferecendo-nos nas suas quatro mãos erguidas um navio de vidro para atravessar a morte. Porque o quarto é na cabeça o ruído dos cascos de um deus num chão inútil, a última e inadiável inteligência que nos serve um revólver, um doce utensílio de liberdade numa bandeja de gargalhadas."
Amor, o quarto é um mistério!
ResponderEliminarÉ vinte e cinco por cento
Ou é aquilo que eu tento
Levar, de verdade, a sério.
Doente, é o cemitério
Onde o quarto toma assento
Em nossa mente, com o bento
Sacramento sem critério.
Porém o quarto é a cama
Que a donzela vira dama
E o homem se torna pai.
Prefiro pensar que a trama
É só de amor de quem ama
E no amor, vai que vai!...
Grande abraço. Laerte.
Obrigada pelo poema LINDO, amigo Laerte.
EliminarAbração.
Não conhecia este belo texto da Natália Correia à volta dessa divisão que chamamos quarto, gostei bastante.
ResponderEliminarAproveito parta desejar à minha amiga um bom Domingo.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
Olá, querida Teresa...
ResponderEliminarmto obrigada pela tua passagem pelo meu blogue pelos votos lá deixados. Nunca ficarei, como dantes, das mãos, mas o importante é ir escrevendo alguma coisinha, de vez em qdo.
Um texto inteligente, "escancarado" e um tanto filosófico, mas Natália era assim. E se o quarto fosse retangular, perguntar-lhe-ia eu, caso ela fosse viva ainda. Morreu, relativamente, nova, mas os anos, que cá esteve foram intensos em álcool, tabaco, vivências e tertúlias e o Botequim, que o diga.
O quarto, crescente ou minguante -rs, é, de facto, o nosso mundo nu, ao vivo e a cores e onde tudo ou nada pode acontecer.
Beijinhos e boa semana.
Olá amiga Céu!
EliminarPassei para saber de ti e acabei deixando uma frase sem nexo que era para ser apagada... Sorry!
Céu, a intensa Natália Correia, a "língua de fogo", faz cá falta.
Beijo e... volta!!!
Querida Teresa, suas escolhas sempre ótimas.
ResponderEliminarGostei e achei bem divertida esta verdadeira 'dissertação' sobre o quarto, palavras verdadeiras e sutis... (:
beijinhos, Léah
Amiga Léah, o texto é de uma MULHER portuguesa, nascida nos Açores. Uma mulher inteligente, de paixões (casou 4 vezes), poeta, cronista, jornalista, dramaturga, deputada (sempre insubmissa na Assembleia da República). Uma mulher "sem papas na língua".
EliminarFaleceu demasiado cedo, aos 70 anos.
Beijo.
A Natália Correia era uma cidadã extraordinária.
ResponderEliminarBeijos, boa semana
A Natália. Sabia dizer tudo de uma forma aberta, chamando tudo pelos nomes certos. Faz falta...
ResponderEliminarGostei de a ler aqui.
Uma boa semana.
Um beijo.