As palavras pesam
Um texto nunca diz a dor das pequenas coisas,
Do quotidiano entrincheirado entre compromissos,
Das tramas afectivas, do exílio anunciado
No andar inquieto das mulheres.
De rosto em rosto, a caligrafia do amor
implorou a memória das palavras encantadas
e, como se houvesse uma linguagem
de atravessar o tempo, acenderam,
sobre os dias, constelações sonoras.
Mas eu, que não adiro aos calendários
nem acredito em vogais prometidas,
eu parti, de punhos febris,
enlaçando nos braços
um futuro marginal, a qualquer lógica.
A posse da noite, onde me quero lua em todas as fases,
leva-me a glosar os medos num novelo de rimas imperfeitas.
A cidade tem pombas que me perseguem sem eu dar por isso.
Tenho um aqueduto modelado nos olhos
e um dilúvio vermelho no desenho do peito.
Poema do livro “Poemas Escolhidos (1990-2011), da poetisa portuguesa Graça Pires (n.1946-), autora do blogue “Ortografia do olhar”, que recomendo aos amantes da verdadeira poesia.
Pintura “Transformative chapter”, acrílico em madeira, do artista vietnamita Duy Huynh.
Pintura “Transformative chapter”, acrílico em madeira, do artista vietnamita Duy Huynh.
Um inquietude poética que gostei de ler!!!bj
ResponderEliminarEsse poema da nossa amiga poetisa Graça Pires é lindíssimo!! Que bom que o tenho aqui, no 'Poemas Escolhidos'!
ResponderEliminarSim, como as palavras pesam e ferem... Se nós soubéssemos o poder de destruição que têm, pensaríamos antes de falar qualquer coisa no ímpeto da fúria. guardaríamos tudo para dizer quando os ventos se acalmassem.
"Tenho um aqueduto modelado nos olhos
e um dilúvio vermelho no desenho do peito."
É lindo demais! Parabéns por ter escolhido um poema tão especial! Tão profundo.
Beijo à vocês duas!
Olá, Teresa!
ResponderEliminarMuito bom que tenhas dividido conosco esse belíssimo poema, da lavra de uma querida amiga nossa, a Graça Pires, uma poetisa sensível e talentosa. Destaco desse poema da Graça, AS PALAVRAS PESAM,
estes belos versos:
De rosto em rosto, a caligrafia do amor
implorou a memória das palavras encantadas
e, como se houvesse uma linguagem
de atravessar o tempo, acenderam,
sobre os dias, constelações sonoras.
Parabéns pela homenagem à poetisa Graça, nossa amiga.
Um abraço, Teresa.
Pedro
Olá. sou seguidor da Graça Pires, eu, que não sou grande apreciador de poemas, principalmente daqueles que nunca mais acabam, gosto de ler os poemas da Graça, escreve de um modo que é fácil interpretar.
ResponderEliminarContinuação de boa semana,
AG
Adorei encontrar um poema da amiga Graça, ela escreve divinalmente.
ResponderEliminarBeijinhos
Maria de
Divagar Sobre Tudo um Pouco
Muito obrigada pela divulgação e pelo carinho que sempre deixa no meu "Ortografia".
ResponderEliminarUm bom fim de semana.
Um beijo.
Não conheci mas é merecedor de uma leitura atenta!!!
ResponderEliminarbj
Tão lindo, bom de ler e reler... Ótima escolha.
ResponderEliminarBeijinhos