“(… ) as folhas todas juntas são um grandioso espetáculo.
São uma imensa população que se despede em festa, riscando ao acaso, com lápis de cor, o uniforme do chão. Não fazem ruído quando tombam, quando se sobrepõem em camadas, quando se apresentam solitárias, quando os nossos pés as condenam, quando se estilhaçam por si e se dispersam, quando se fundem com a terra a ponto de não as distinguirmos. Nestas semanas de outono são um cinema que não encerra: exibem em contínuo o amarelo, o ocre, o verde-barro, o verde mate, o azeitona vítreo, o avermelhado, o laranja, o pontilhado negro. E estão sempre a chegar. Basta um sopro de vento e, imediatamente, centenas delas se soltam no ar, numa dança inventiva, rodopiada e lenta; numa incrível chuva de ouro; numa música silenciosa que desce. Se calha atravessarmos um jardim, esta visão ganha a magistral precisão de uma coreografia. Contudo, ela também é bela de seguir no imprevisto de uma rua que se dobra ou surpreendida de uma janela, numa daqueles momentos em que coincide erguermos os olhos e esse presente nos é oferecido.
As crianças, neste assunto de folhas, sabem mais do que nós. Lembro-me de ter perguntado a uma miúda dos seus quatro anos se já tinha reparado no tapete maravilhoso que as folhas nos oferecem. Ela ouviu-me interessada. Eu expliquei-lhe como aquele era um tapete fofo, como as corresse divertiam a espalhar-se numa evidente brincadeira, como era bonito e precioso. Ela então largou a minha mão, deu um salto para o meio das folhas e disse alto, com aquela solenidade que se tem aos quatro anos de idade: “Olá, tapete!” Saudava assim com entusiasmo não só aquele fragmento do mundo que identificava, mas o inteiro outono ou mesmo a inteira vida. (...)"
Excerto da crónica “As folhas”, de José Tolentino Mendonça (presbítero e poeta português, n. 1965), publicada na “E”, revista do jornal Expresso de 8 Dezembro 2017
Vale a pena ler na íntegra.
(Foto da net)
Gostei desta leitura e saliento:
ResponderEliminar“Olá, tapete!” Saudava assim com entusiasmo não só aquele fragmento do mundo que identificava, mas o inteiro outono ou mesmo a inteira vida. (...)"
... bj
Visitando, gostei muito do seu blogue. Fiquei seguidor
ResponderEliminar.
Hoje
Margens de sedução de branca espuma
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Deixo um abraço poético.
Boa tarde. Domingo feliz
Olá Gil!
EliminarBem-vindo ao meu roldeleituras.
"Margens de sedução de branca espuma", hum... promete. Vou espreitar.
Boa semana.
Abraço.
As folhas de outono formam um lindo tapete. Que bom receber a sua visita no blog. Um abraço, Yayá. Ps. Esse é o meu nome.
ResponderEliminarQue lindo esse texto poético! Fica a imagem da dança das folhas secas e coloridas, voando. É importantíssima essa estação que vocês estão agora, caem as folhas secas dando lugar para as novas que irão florir noutra época. Tudo se renova.
ResponderEliminarA foto é maravilhosa! Essas cores das folhas, juntas, digo que formam uma das combinações mais lindas, como a natureza sabe combinar as cores...Irei lembrar quando chegar a nossa hora, lá por março, do 'Olá, tapete!'.
Beijo grande, amiga!
Não posso ler lindos textos sem que as lágrimas me venham, ai paro, me recomponho e claro continuo e me deleito com tanta beleza.
ResponderEliminarMuito Obrigada, amei.
GRande abraço, beijinhos,
Léah
Olá Leah!
EliminarQuem escreve e pinta com tanta sensibilidade tem de ser de lágrima fácil!
"Chorar lava a alma", dizem. Eu acredito que sim.
Bom semana amiga.
Beijo.
Gosto muito de ler as crónicas de José Tolentino Mendonça. Andei a ler um livro deste autor chamado "O pequeno caminho das grandes perguntas" do qual gostei imenso.
ResponderEliminarUma boa semana.
Um Beijo.
Obrigada pela dica, Graça.
EliminarVou pedir ao Pai Natal...
Beijo, amiga, e boa semana.
Fabuloso texto! Adorei ler.
ResponderEliminarJá sigo, voltarei
Hoje:-Prometeste-me um dia d'amor em alto mar.
Bjos
Óptima Segunda-Feira
Larissa, és muito bem-vinda!
EliminarPelos vistos também já te sigo... Boa!
Beijo.
Que lindo Teresa, só podia ter sido escrito pelo José Tolentino de Mendonça. Tenho-me esquecido dele, embota já tenha colocado aqui textos dele. E assim é a natureza cobrindo o chão de variadissimos tapetes , tendo hoje, para admiração de muitos,usado um lindíssimo branco, branco cor de neve. E as árvores, para não destoarem, ergueram os " braços " aparando os flocos como se fossem pedaços de algodão que os aquecerão, agora que estão nus. E como também gostam, as crianças, de rolarem neste tapete branco, amiga!!! Aliás elas são as que mais valor dão a estas maravilhas da natureza; ainda não aprenderam com os adultos a estragaram estes belos quadros tāo perfeitamente pintados. Querida Teresa, quero agradecer-te o carinho, perguntandobpela minha mãe; felizmente melhorou, apesar da infecção urinária voltar constantemente; deve ser provocada pelo problema grave da bexiga que, como já te falei voltou com bastante agressividade. Vão-se contornando estes problemas da melhor maneira possivel, pois a idade e o probleminha nas carótidas não permitirem muito mais. Espero, sinceramente que os teus problemas de saúde se resolvam e que não seja nada de grave. Deixo-te um forte abraço e o meu agradecimento por te lembrares de mim desta forma tão carinhosa. Uma Grande Amiga tu és, Teresa!
ResponderEliminarEmilia
Olá Emília!
EliminarBoas notícias da tua mãe. Como diz o povo: «a idade não perdoa». Vai levando com calma. amiga.
O meu problemita de saúde está resolvido. Assim espero! Postei sobre ele dia 21 e 28 de Novembro.
Emília, tu és das pessoas mais carinhosas e atenciosas que conheci na blogosfera. Eu dou-te apenas o que mereces. E, amiga, tu mereces muito mais.
Beijo, querida.
Olá, Teresa!
ResponderEliminarGrata pela sua visita e palavras tão simpáticas e agradáveis em relação à minha escrita. Faz-se o que se pode, como vulgarmente costumamos dizer.
Li e reli o extrato da crónica "As folhas" de Tolentino de Mendonça, e como sempre, fiquei com olhos doces, e não me chamo Amélia, e de coração preenchido e quente, contrariando a nossa Meteorologia.
Leio, de vez em quando, o Expresso, e já conheço a forma e o tipo de escrita deste presbítero e professor madeirense. Os ilhéus, em minha opinião, são pessoas especiais, brandas e com muita leveza e bondade de espírito.
Aos olhos das crianças, tudo fica ainda mais simples e deslumbrante, porque o desajuste do mundo, que ainda não conhecem, para tal contribui.
A imagem escolhida para encimar o texto está na mesma proporção dele e até os cabelinhos da menina, naturalmente despenteados, dão realce ao extrato, que decidiu publicar. Parabéns pelo seu bom gosto.
Um cordial abraço e dias felizes.
Olá, Céu!
EliminarGostei que saber que a grande "poetisa" também escreve boa prosa. Prosa musicada, quase poética, num mero comentário... deixou-me encantada!
Céu, é um gosto vê-la no meu roldeleituras.
Um abraço e boa semana.