“Sempre que vejo sangue, desmaio. Sou fraca a esse ponto, não suporto nem um beliscão. Incomoda-me essa debilidade, mas não consigo ultrapassá-la por mais que me esforce. Quando me têm de tirar sangue para uma análise, experimento todo o tipo de truques: olhar para outro lado, fechar os olhos, contar até cem; inclusivamente uma vez tentei o contrário, olhá-lo fixamente, concentrar-me no sangue e pensar que era água, torná-lo transparente com a força do meu olhar.
Aguento apenas uns segundos antes de sentir aquela frouxidão que nasce nos pés e se instala na boca do estômago, depois os ombros descaem, o pescoço cede, as maçãs do rosto fraquejam-me como cera derretida e, quando o frio chega ao cérebro, já não estou. Falta de luz. Não é desagradável. Pelo contrário, tem qualquer coisa de abençoado, esse abandono, essa interrupção total da consciência. Tomara eu dormir sempre assim, flutuar à deriva nessa paz com todas as amarras cortadas. O desmaio, como o sono, está fora do tempo, numa dimensão própria que parece eterna mesmo que dure apenas uns segundos.”
Aguento apenas uns segundos antes de sentir aquela frouxidão que nasce nos pés e se instala na boca do estômago, depois os ombros descaem, o pescoço cede, as maçãs do rosto fraquejam-me como cera derretida e, quando o frio chega ao cérebro, já não estou. Falta de luz. Não é desagradável. Pelo contrário, tem qualquer coisa de abençoado, esse abandono, essa interrupção total da consciência. Tomara eu dormir sempre assim, flutuar à deriva nessa paz com todas as amarras cortadas. O desmaio, como o sono, está fora do tempo, numa dimensão própria que parece eterna mesmo que dure apenas uns segundos.”
Enrique de Hériz , escritor espanhol (n. 1964), in “Mentira”, Ed. D. Quixote, 2006
Foto da net.
rss, conheço esse pavor vendo nos outros. Eu até guio as pessoas que me tiram sangue, pois tenho uma veia que nunca aparece. E fico dizendo, pega ela aqui mais embaixo que sei a rota dela!!
ResponderEliminarE tem mais... dou injeção na veia que é uma perfeição!O Pedro que o diga!
Acho que foi de tanto ver e receber. Como tenho pressão baixa, chegava o verão e tiro e queda: meu pai me dava um 'pacote' de injeção na veia para que eu aguentasse o calor, o desânimo que o calor me causava. E logo melhorava. Mas entendo esse pavor. Sou contra mostrarem na TV as campanhas de vacinação, mostrando exatamente a agulha entrando na pele... assim não dá!!
Beijo, amiga, saudades!