11 julho, 2017

Quando não consigo dormir...


Quando não consigo dormir, costumo deitar-me de barriga para cima, com os olhos fechados e os braços esticados paralelos ao tronco. Todo o corpo liso e direito, excepto os pés, que apontam para o céu. Então, começando pelo dedo mínimo do pé direito, vou-os mexendo um a um, devagar, muito devagar, e conto-os. Mexo um dedo e conto-o, um; mexo o seguinte, dois, três, quatro. Ao chegar a dez, estou no dedo mínimo do segundo pé. É importante mexê-los todos, um a um, não saltar nenhum dedo, não interromper a contagem. Quando se termina, volta-se a começar em sentido contrário: onze dedos, doze, treze…
Não costuma falhar. Houve alturas em que cheguei a contar mais de cento e cinquenta dedos, mas com firmeza e método, se os contarmos realmente um a um e mexermos de cada vez aquele que é devido, acaba por se conseguir. Vai-nos dando o sopor.

Nunca tomei um comprimido para dormir. Nunca, nem sequer uma valeriana. (…) Nunca um comprimido. Sempre os dedos um a um!”

Enrique de Hériz , escritor espanhol (n. 1964), in “Mentira”, Ed. D. Quixote, 2006
Foto da net.


(Experimentei "contar dedos dos pés" na passada semana, quando a minha netinha adormecia e eu teimava em ficar de olhos abertos. Perdida de sono, mas de olhos abertos.

Foi uma semana em grande, aqui em casa com a Madalena. Os papás foram de férias, levaram a Carolina, de seis anos, e deixaram comigo a pequenina de dez meses. Linda, linda, linda!
Foi maravilhoso!
E cansativo? Sim, um pouco; biberons, papas, fraldas e chupetas... não é mole, não! Mas voltaria a fazer tudo, mesmo tudo!
Vivem longe e não são muitas as vezes que estamos juntas. Pena minha!

Acreditem, abraços e beijos babados de netinhas provocam numa avó um turbilhão de emoções.
Mesmo se para dormir tem de contar os dedos dos pés.)

1 comentário:

  1. Olá Teresa.
    É sempre bom conhecer escritores espanhóis, que nem sempre chegam às nossas livrarias. Parabéns pela ótima resenha.
    Um abraço.
    Pedro

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