“Os sentimentos que mais doem, as emoções que mais pungem, são os que são absurdos – a ânsia de coisas importantes, precisamente porque são impossíveis, a saudade do que nunca houve, o desejo do que poderia ter sido, a mágoa de não ser outro, a insatisfação da existência do mundo. Todos estes meios tons da consciência da alma criam em nós uma paisagem dolorida, um eterno sol-pôr do que somos. O sentirmo-nos é então um campo deserto a escurecer, triste de juntos ao pé de um rio sem barcos, negrejando claramente entre margens afastadas. (…)
Sei que estes pensamentos da emoção doem com raiva na alma. (…)
Nestas horas de mágoa subtil, torna-se impossível, até em sonho, ser amante, ser herói, ser feliz. Tudo isso está vazio, até na ideia do que é. Tudo isso está dito em outra linguagem, para nós incompreensível, meros sons de sílabas sem forma no entendimento. A vida é oca, a alma é oca, o mundo é oco. Todos os deuses morrem de uma morte maior que a morte. Tudo está mais vazio que o vácuo. E tudo um caos de coisas nenhumas.”
Fernando Pessoa, poeta português (1888-1935), in “Livro do desassossego”, Ed. Tinta da China, 2014
Painel de azulejos de Almada Negreiros, pintor português (1893-1970).
Exato, é isso! Está combinando com a citação de Florbela do outro blog de onde acabo de vir.
ResponderEliminar"Tudo está mais vazio que o vácuo. E tudo um caos de coisas nenhumas.”
A vida é uma gangorra, sobe e desce, e são nas descidas que mora o perigo - como dizemos aqui. Mas quase tudo beira a futilidade, pouco se salva. E na futilidade não há emoções que valham. E restam as mágoas, as insatisfações, os rancores e ódios que ficam para contarmos as histórias. As belas histórias...
Beijo!
Pois é, Teresa, gênio é gênio. Quem falaria melhor sobre esses sentimentos que Fernando Pessoa? Nesse trecho de "Os sentimentos que mais doem..." está presente uma obra de arte. E também a sabedoria está nela. Agradeço pela partilha, tanto do texto como da excelente imagem.
ResponderEliminarUm abraço.
Pedro