Tem uma filmografia extensa. Participou em pelo menos 200 filmes. Quais são os que contam verdadeiramente?
Os filmes não me interessam. Não sei responder-lhe. É verdade. Estou-me nas tintas.
Lamenta alguma coisa que tenha ou não tenha feito no passado?
Não, até ao momento não tenho tempo sequer de pensar nisso. De facto, e para falar a sério, não acho que se deva lamentar nada. Passamos sempre ao lado de certas coisas mas, a partir do momento em que fazem parte do passado, mesmo que saibamos o que fizemos de errado ou que negligenciámos, só temos a hipótese de fazer um exame de consciência.
(…)
É um homem livre?
Tento ser.
E a solidão não acompanha a liberdade?
A solidão é uma chatice mas existe a meditação. De resto, a solidão só existe nas cidades. Existe quando há todo aquele movimento à nossa volta e nos sentimos perdidos. Quando há demasiado barulho e nós nos tornamos surdos, aí podemos experimentar a solidão. Mas no espaço, quando atravessamos o deserto, quando vamos à Mongólia, mesmo no Alentejo ou em Faro, não a sentimos. Quando olhamos para o mar de Portugal e vemos aquela espécie de horizonte que nos agarra, não conseguimos desligar-nos da história de todos aqueles que partiram. É como ir à Lua, viajar no espaço, ir a Marte, não sei. São coisas que foram abstratas num determinado momento, quando a Igreja dizia que não se podia ir para ocidente porque se cairia nos abismos, quando as pessoas que sabiam que a Terra era redonda e girava à volta do Sol, como Galileu, eram queimadas vivas. É que o desconhecido mete medo. Por trás do desconhecido se calhar há outros fascínios. Não podemos ouvir o que o nosso pai ou a nossa mãe nos diziam, só se for para não os magoarmos. O que é preciso é termos a nossa própria ideia sobre as coisas.
(…)
Gostaria de ter vivido noutra época?
Não, esta serve-me porque vivo noutra época mesmo nesta época.
Frases soltas:
- Gosto mais de livros do que de imagens. A imagem limita.
- Nascemos numa época em que só se fazem selfies, procuramos a nossa própria imagem.
- Cada época tem os seus defeitos, cada época tem os seus doidos.
- A História repete-se mas é sempre encantadora.
- Tenho medos dos estúpidos… porque os estúpidos podem desestabilizar.
- Temos em nós uma ideia que nos reconforta porque Deus está em nós.
- Não sou religioso, mas acredito no xamã e no xamanismo.
- A cozinha portuguesa é muito boa. A arte da mesa em Portugal é muito boa.
Excerto da entrevista concedida a Alexandra Carita – a propósito da estreia do filme “O Divã de Estaline, realizado por Fanny Ardant e protagonizado pelo actor - publicada na “E”, revista do jornal Expresso de 28 Janeiro 2017
Vale a pena ler na íntegra.
Só vale a pena! Começando pela sua curiosa biografia - aos 12 anos fugiu de casa e foi viver com prostitutas, rs. - Cada época tem os seus defeitos, cada época tem os seus doidos..Grande Depardieu!!
ResponderEliminarArtur da Távola, (escritor, jornalista, advogado brasileiro) dizia que, quem tem vida interior jamais padecerá de solidão . E bota verdade nisso! Podemos estar entre uma multidão e nos sentir muito sós.
Beijo, querida amiga.
Gostei de ler...
ResponderEliminarBom fim de semana.
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É provável que nunca leia toda a entrevista de Dépardieu. Tem algumas coisas interessantes, mas insuficientes para me fazer procurá-la na íntegra.
ResponderEliminarBom sábado:)
É desconcertante em algumas respostas:
ResponderEliminarE, até por isso, vale mesmo a pena ler.
Bom resto de domingo e boa semana, amiga Teresa.
Beijo.
Não li, mas comentei. Ou seja, o meu marido estava a ler algumas dessas respostas e trocámos opiniões sobre os assuntos. Já não tive vontade de ler tudo de fio a pavio.
ResponderEliminarBeijinhos