Abraça-me, a vida é muito breve e ninguém sabe se existe uma eternidade para as nossas almas frágeis, talvez só tenhamos esta vida.
Em “A vida é breve” Jostein Gaarder retrata - doseando sabiamente realidade e ficção - a vida e obra de Aurélio Agostinho (Aurelius Augustinus), filósofo, escritor, doutor da Igreja, conhecido por Santo Agostinho.
A inspiração terá surgido após encontrar uma carta redigida por uma mulher e endereçada a Aurélio Agostinho, no interior duma caixa que comprou na feira da ladra de San Telmo, em Buenos Aires.
Eu conhecia bem a biografia de Agostinho. Nenhuma outra figura mostra com tanta clareza a profunda mudança cultural que teve lugar na transição da antiga cultura greco-romana para a cultura cristã (…) As suas confissões proporcionam uma visão única do agitado século IV, assim como dos seus próprios conflitos espirituais, relacionados com a fé e a dúvida. (…) poderia esta carta ser daquela mulher que fora a concubina de Agostinho durante anos, da mulher que ele próprio conta ter tido que deixar por ter escolhido abster-se para o resto da vida de todo o amor sensual?
Se não era passou a ser e logo Jostein Gaarder deu nome e voz à mulher que Aurélio Agostinho amava quando decidiu afastar-se do amor humano para se concentrar na salvação da própria alma. Mulher que não entende como pode um princípio filosófico separar duas pessoas que se amam e na carta o crítica com ironia e desprezo.
FLÓRIA EMÍLIA SAÚDA AURÉLIO AGOSTINHO, BISPO DE HIPONA
Como é estranho ter de saudar-te nestes termos! Há muito, muito tempo, teria escrito apenas «para o meu pequeno e divertido Aurélio». Mas passaram já mais de dez anos desde a última vez que me abraçaste e, entretanto, muitas coisas mudaram. (…)
Procedeste assim porque começavas a sentir desprezo pelo amor carnal entre homem e mulher…. Achaste que eu te prendia ao mundo dos sentidos e que não tinhas paz nem tranquilidade para te concentrares na salvação da tua alma (…)
Mas que traição, Aurélio, que traição! Não, eu não creio num Deus que exige sacrifícios humanos. Não creio num Deus que destrói a vida de uma mulher para salvar a alma de um homem. (…)
E havia um filho. E Deus é minha testemunha: assim como eu era a mãe de Adeodato, também tu eras o seu pai verdadeiro. (…)
A vida é breve, demasiado breve. Talvez vivamos esta única vez, aqui e agora. (…)
Que Deus do Nazareno te perdoe por toda a ternura e todo o amor que agora rejeitas.
Estou em Cartago, sentada debaixo a nossa figueira, que, pela terceira vez, floresce sem dar fruto.
Eu te saúdo!
E mais não desvendo sobre esta belíssima história de amor dorido.
Ficção ou realidade, essa celeuma não me interessa nada.
Esta vida é tão breve! Não podemos ter a veleidade de emitir qualquer condenação sobre o amor.
A vida é breve, de Jostein Gaarder
Tradução de Maria Luísa Ringstad
Ed. Presença, 1998
116 págs.
gostei bastante deste livro. É uma invenção bonita. Mas a obra que Agostinho deixou talvez não existisse se tivesse ficado com a senhora e o filho de ambos. E, por certo, Agostinho deixou de encontrar nela a felicidade, dado que procurou outra vida e aí se manteve até à morte, não consta que obrigado.
ResponderEliminarDe Jostein Gaarder li o "Mundo de Sofia", um livro muitíssimo interessante.É uma forma leve e apelativa de aprender a abordar a Filosofia.
ResponderEliminarAssim, penso que iria gostar deste tanto mais que trata da vida de Santo Agostinho. Filósofo e Doutor da Igreja aliado às suas anteriores vivências, é uma personalidade fascinante.
Bom fim de semana, Teresa.
Bj
Olinda
Pois é, essa relação dos homens com a igreja, com Deus sempre trouxe enormes dúvidas, essa e os dogmas da Igreja. Essas dúvidas e outras temos até hoje, como o caso do celibato dos padres. Por que esse celibato? Não será a hora de uma igreja mais moderna? Deixo esse link, dê uma olhada...
ResponderEliminarhttp://taisluso.blogspot.com.br/2007/07/padres-devem-casar.html
beijo.
Querida amiga, não sei se já disse aqui que adoro ler e este livro de certeza que vai agradar-me muito Sempre achei estranho essas " aversão " da igreja católica ao tal amor carnal, pois sempre soubemos que a única maneira de anular um casamento religioso era a não consumação do acto sexual; sei que actualmente consegue-se anular os casamentos religiosos alegando outros problemad, mas não era assim, Acho que os sacerdotes deveriam ter o direito a optar e não serem obrigados ao celibato. A vida sozinhos torna-se muito triste e não vejo entrave nenhum a que constituam familia. Obrigada pela " dica " será um livro a ler, com toda a certeza. Beijinhos
ResponderEliminarEmília