“Vivemos com uma pessoa dois, dez, vinte anos. Surpreende-nos a quantidade de coisas que esquecemos? Há porções inteiras da nossa vida que desaparecem pura e simplesmente; as nossas recordações confundem-se. O que andámos a fazer durante todo esse tempo? De que maneira passámos o tempo como casal?
Podem tornar a emergir fragmentos dispersos aqui e além, mas nunca esquecemos aquele primeiro encontro. Aquelas mãos a atraírem-nos para mais perto, a fecharem-nos os olhos à medida que saboreamos a doçura da boca daquela pessoa estranha. Vislumbres de pele, olhos, cabelos a meterem-se de premeio, ombros. Enfiámos todas essas imagens naquele glorioso encadeado, e a cadeia nunca se quebrou, as contas nunca se soltaram do fio. Ficarei contigo para sempre. E surpreender-nos-emos ao perceber que, muitas vezes, é tudo quanto conseguimos guardar do outro.”
“Esforçamo-nos toda a vida por esquecer as pessoas que nos magoaram, mas, ao ficarmos mais velhos e mais fracos, a sua lembrança vem novamente à tona, como uma bolha de água. Temos de nos render, porque nos sentimos demasiado fatigados para lutar e tornar a afundá-la. E talvez, inesperadamente, descubramos que, em lugar de nos reavivar a ira, essas recordações produzem um inesperado encanto.”
Tirei daqui:
Texto de “Casa Rossa”, de Francesca Marciano, Ed. Dom Quixote, 2006
Texto de “Casa Rossa”, de Francesca Marciano, Ed. Dom Quixote, 2006
Foto da net - pintura de Romero Britto.
Escreve na verdade bem, esta senhora. Mas, ou ainda não bati na idade certa, ou desalinho das afirmações sobre as pessoas que nos magoaram e vêm como uma bolha à superfície. Elas vêm e não as mergulho, vão quando vão. Mas encanto não têm nenhum.
ResponderEliminarBea, lê este romance.
EliminarÉ soberbo!
Ah, eu já estive com ele na mão:). Tenho de passar à fase seguinte. Obrigada pelo conselho.
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