Há qualquer coisa que foi transmitida de mulher para mulher na minha família. Não sei como lhe chamar. Um segredo, um legado tácito - precisa de se manter oculta, é uma coisa que envergonha. A sua carga modelou cada uma de nós, deformou-nos para sermos o que hoje somos, tal como as videiras são lentamente forçadas pelo arame.
Enquanto lia “Memórias laurentinas”, de Agustina Bessa-Luís, veio-me à memória este romance de Francesca Marciano, que li em 2006 e não mais esqueci.
Agora não o reli, apenas folheei as páginas em busca de frases sublinhadas para desvendar um pouquinho da comovente e fascinante história de uma família italiana, do século XX.
História reconstituída por Alina com fragmentos do passado da família, que também é sua, com segredos da família e do país, que há muito deviam estar enterrados, com mistérios da vida de três extraordinárias mulheres que habitaram Casa Rossa, a magnífica casa de campo dos Strada, em Puglia:
Renée Strada (avó) - uma bela tunisina, mulher e musa de um pintor que abandonou por uma mulher e fugiu para a Alemanha nazi;
Alba Strada (mãe) - viveu a dolce vita na Roma dos anos cinquenta e casou-se com um guionista melancólico que morreu em circunstâncias misteriosas;
Isabella Strada (neta) - juntou-se às Brigadas Vermelhas nos anos 70.
Comprada pelo avô Strada, nos finais dos anos 20, setenta anos depois Casa Rossa foi vendida.
... completamente despida numa só manhã, voltará a emudecer. Uma tela branca, onde outras pessoas escreverão a sua história.
Alina Strada, irmã de Isabella, filha de Alba e neta de Renée, fecha a porta e... conta-nos uma história apaixonante, acerca do que se perde no caminho.
Casa Rossa lê-se e não se esquece.
Verdade!
Casa Rossa, de Francesca Marciano
Tradução de J. Teixeira de Aguilar
Ed. Dom Quixote, 2006
398 págs.
Parece-me o estilo de romance que gosto de ler. Há livros demais que a gente gostaria de ler. De ter. De. Mas lemos os que lemos e acabou. O importante é que alguma coisa em nós mude ou acrescente por lê-los. Mas isso até julgo que depende mais do sujeito que do objecto.
ResponderEliminarConcordo inteiramente, Bea.
EliminarLer... para aprender. Apenas e só.
Abraço.
Mas eu não leio para aprender, leio porque gosto de ler. Mas estou convencida que retiro algum proveito por via desse gosto. Ler para aprender só fiz na escola.
ResponderEliminarEncantam-me os teus comentários...
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