ESCRITO NO MURO
Procura a maravilha.
Onde a luz coalha
e cessa o exílio.
Nos ombros, no dorso,
nos flancos suados.
Onde a boca sabe
a barcos e bruma.
Ou a sombra espessa.
Na laranja aberta
à língua do vento.
No brilho redondo
e jovem dos joelhos.
Na noite inclinada
de melancolia.
Procura.
Procura a maravilha.
DO OUTRO LADO
Também eu já me sentei algumas vezes às portas do crepúsculo, mas quero dizer-te que o meu comércio não é o da alma, há igrejas de sobra e ninguém te impede de entrar. Morre se quiseres por um deus ou pela pátria, isso é contigo; pode até acontecer que morras por qualquer coisa que te pertença, pois sempre pátrias e deuses foram propriedade apenas de alguns, mas não me peças a mim, que só conheço os caminhos da sede, que te mostre a direcção das nascentes.
Eugénio de Andrade (1923-2005), in "Poesia e Prosa (1940-1986) – I vol.", Círculo de Leitores, 1987
Vá lá que tenho um livro dos que aqui mostra:). Puxa, já desesperava (se eu fosse desesperar).
ResponderEliminarEu gosto do Eugénio até debaixo de água. Sempre, sempre, até ao fim dos tempos. Com amor profundo e arreigado. Os meus livros dele estão velhíssimos, amarelentos, com páginas a descolar. E lá dentro as palavras tão bonitas não envelhecem. Refulgem.
Boa Bea!
ResponderEliminarTambém eu leio e releio Eugénio de Andrade, sempre com muito agrado.
Tenho os três volumes publicados pelo Círculo de Leitores, em 1987.
Bons tempos em que o peço dos livros era mais acessível.
Sempre posts relevantes Teresa :)
ResponderEliminarBeijinhos e boas leituras
O nosso Eugénio sempre
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