A escrita é claramente uma actividade de que não nos libertamos com facilidade, mesmo quando se nos torna detestável ou impossível.
Este é um livro diferente.
Trata-se de uma colectânea de seis histórias que se lêem e admiram. Porque são ilustradas, interessantes e surpreendentes. Isso mesmo!
Seis histórias, seis retratos de artistas que W.G. Sebald homenageia: Johann Peter Hebel, Jean-Jacques Rousseau, Eduard Mörike, Gottfried Tripp, Robert Walser e o pintor Jan Peter Tripp. Artistas cuja vida e obra tanto o intrigaram como o iniciaram.
Histórias (ensaios/reflexões) que desvendam particularidades da vida e obra dos retratados e nos convidam a descobrir a paisagem pré-alpina, região da qual os sete são oriundos.
Diz Sebald na introdução: é sobretudo como leitor que pretendo prestar o meu tributo aos colegas que me precederam sob a forma de marginália algo dilatada, mas sem particulares intenções. Forçoso é que no final se encontre um ensaio sobre um pintor, não apenas porque Jan Peter Tripp e eu andámos bastante tempo juntos na escola (…) mas também porque os seus quadros me ensinaram que a arte requer trabalho e que quem quiser contar coisas deve esperar grandes dificuldades.
Em seguida, celebra a seu modo a perseverança, os sacrifícios e o génio dos retratados, com uma prosa brilhante e ilustrações magníficas. Grandes dificuldades? Não notei.
Destaco o texto sobre Robert Walser (1878-1956) e as fotografias que o acompanham. Chocou-me a tristeza, a pobreza, a solidão, a angústia negada do atormentado mas enorme contista. Dele já li a colectânea de “Histórias de amor”, e recomendo.
Os vestígios que Robert Walser deixou da sua vida são tão ténues que quase se apagaram. (…) Nunca se apegou a um sítio, nunca adquiriu nada para si. Nunca teve casa nem qualquer morada duradoura, nenhum móvel, e por único guarda-roupa somente um fato melhor e outro mais modesto. Não possuía sequer o que um escritor necessita para exercer o seu ofício. De livros, ao que creio, não tinha nem os que ele próprio escreveu. O que lia era quase sempre emprestado. Até o papel para escrever lhe chegava em segunda mão. Distante toda a sua vida dos bens materiais, esteve-o também dos outros seres humanos. (…) Como havemos de compreender um autor que tantas sombras ameaçadoras acossaram, e que no entanto derrama a cada página a mais cativante luz?
Luz é o que também encontramos na escrita de W.G. Sebald.
Confira!
O caminhante solitário, de W.G. Sebald
Tradução de Telma Costa
Ed. Teorema, 2009
163 págs.
Olá!
ResponderEliminarPenso que vale a pena confirmar, sim.
Parece interessante. E diferente.
Beijinhos e boas leituras
Parece interessante. Obrigado pela dica. :)
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