“O banqueiro anarquista” - crónica escrita para o primeiro número da revista Contemporânea, em Maio de 1922 - reproduz uma conversa entre dois amigos. Conversa que gira à volta de um único tema: o Anarquismo.
Tínhamos acabado de jantar. Defronte de mim o meu amigo, o banqueiro, grande comerciante e açambarcador notável, fumava como quem não pensa. A conversa que fora amortecendo, jazia morta entre nós. Procurei reanimá-la, ao acaso, servindo-me de uma ideia que me passou pela meditação. Voltei-me para ele, sorrindo:
- É verdade: disseram-me há dias que você em tempos foi anarquista…
- Fui, não: fui e sou. Não mudei a esse respeito. Sou anarquista.
- Essa é boa! Você anarquista! Em que é que você é anarquista?... Só se você dá à palavra qualquer sentido diferente…
- Do vulgar? Não: não dou. Emprego a palavra no sentido vulgar.
- Quer você dizer então, que é anarquista exactamente no mesmo sentido em que são anarquistas esses tipos das organizações operárias? Então entre você e esses tipos da bomba e dos sindicatos não há diferença nenhuma?
- Diferença, diferença, há… Evidentemente que há diferença. Mas não é a que você julga.
E vá de elucidar o amigo sobre as diferenças...
A diferença é só esta: eles são anarquistas só teóricos, eu sou teórico e prático; eles são anarquistas místicos e eu científico; eles são anarquistas que se agacham, eu sou um anarquista que combate e liberta… Em uma palavra: eles são pseudo-anarquistas, e eu sou anarquista.
... e sobre o processo e os meios de que se serviu, legitimamente, como anarquista, para enriquecer:
Como subjugar o dinheiro, combatendo-o? Como furtar-me à sua influência e tirania, não evitando o seu encontro? O processo era só um – adquiri-lo, adquiri-lo em quantidade bastante para lhe não sentir a influência; e em quanto mais quantidade o adquirisse, tanto mais livre eu estaria dessa influência. Foi quando vi isto claramente, com toda a força da minha lógica de homem lúcido, que entrei na fase actual – a comercial e bancária, meu amigo – do meu anarquismo.
Leia esta história pequenina (55 págs.), crítica, provocatória, hilariante e... actualíssima.
... dá vontade de rir, mesmo depois de o ter ouvido, comparar o que você é com o que são os anarquistas que para aí há…
"As tretas” deste banqueiro anarquista dão vontade de rir, já as de outros banqueiros...
"As tretas” deste banqueiro anarquista dão vontade de rir, já as de outros banqueiros...
Sem comentários:
Enviar um comentário