Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem.
Este diálogo entre o médico e a mulher do médico, aparece na última página do romance. Romance que relata um estranho fenómeno de “cegueira branca” que assola uma cidade.
Tudo começa com um homem dentro do carro parado num sinal vermelho. Quando o sinal muda para o verde ele não avança e grita: Estou cego. Fica a ser O primeiro cego.
Logo depois, cega o homem que se oferece para o levar a casa e lhe rouba o carro – o ladrão.
Depois, é o médico a quem o primeiro cego diz ver uma cor branca leitosa, densa, como se se encontrasse mergulhado de olhos abertos num mar de leite.
Depois, é a rapariga dos óculos escuros, diagnosticada pelo médico com uma simples conjuntivite.
Depois, depois, depois…
Para evitar o contágio do mal-branco as autoridades governamentais decidem isolar num mesmo local as pessoas que cegam, e também quem tivesse estado em contacto com elas. Escolhem um manicómio abandonado e isolado, com condições de segurança.
O médico e a mulher (que continua a ver mas se faz passar por cega para acompanhar o marido) são os primeiros a ser levado para lá.
Rapidamente o manicómio fica cheio de gente. Gente boa (dominada) e gente muito má (dominadora). Gente cujo comportamento a mulher do médico observa como se estivesse por trás de um microscópio. Gente que não pode saber do seu segredo - ver e não ser vista - e isso pareceu-lhe subitamente indigno e obsceno. Gente abandonada à sua triste sorte. Gente que vai viver experiências terríveis.
Se não formos capazes de viver inteiramente como pessoas, ao menos façamos tudo para não viver inteiramente como animais, diz, repetidamente, a mulher do médico. Nem todos a ouvem. Até um dia.
Tu não és cega, a mim não me enganas. Talvez eu seja a mais cega de todos…
Tu não és cega, a mim não me enganas. Talvez eu seja a mais cega de todos…
Romance para ler, pensar e reflectir.
Sobre ele já tudo foi escrito, dito e até mostrado em filme, logo, eu fico por aqui.
Sobre ele já tudo foi escrito, dito e até mostrado em filme, logo, eu fico por aqui.
Que estranha história! Estranha mas séria, sobre o comportamento do ser humano face a situações extremas. História bem imaginada e muito bem contada. Só mesmo Saramago se lembraria de uma “coisa” assim.
Ainda bem!
Ainda bem!
Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago
Ed. Caminho, 1995
310 págs.
Um livro inesquecível :)
ResponderEliminarLiteratura para ler, pensar e reflectir, é desta que eu gosto e mais uma vez Saramago é absolutamente genial, só neste país as múmias quiseram ocultá-lo, e a principal múmia ainda anda por aí...
ResponderEliminar"Mais cego é o que não quer ver".
ResponderEliminarDas obras que ficam para sempre.