25 outubro, 2013

"Vermelho e Negro" - Stendhal

… as paixões são acidentes na vida…
Eis um dramático, denso e poderoso romance psicológico, cuja acção decorre no período pós Revolução Francesa.
Stendhal escreve sobre os dramas, alegrias e paixões do jovem plebeu Julien Sorel e, pelo meio, critica violentamente a igreja e a sociedade parisiense da época.
Julien tem dezanove anos, é filho de um carpinteiro de Verrières, sonha com a glória do exército de Napoleão e ambiciona riqueza e estatuto social. É arrogante, ambicioso, sedutor, traiçoeiro, sarcástico, interesseiro, mas também, cavalheiro, inteligente, sagaz, trabalhador, e com uma destas memórias espantosas que tantas vezes acompanham a estupidez.
(Enquanto leitores, ou se gosta ou se odeia. Eu consegui gostar, graças à magnífica construção da personagem e à escrita envolvente e viciante, mesmo que nem sempre fácil.)
A história está dividida em duas partes::
- na primeira parte, Julien estuda teologia com o padre Chélan (o bom velhinho que vê nele um jovem inteligente, com uma alma generosa), memoriza a Bíblia (para impressionar a alta sociedade, que despreza), e deixa a casa do pai para se tornar perceptor dos dois filhos do rico e poderoso Sr. Rênal, perfeito de Verrières. Julien odeia as crianças, mas, sendo ele um perfeito fingidor, encanta a mãe delas, uma mulher ainda jovem, bela, bondosa, muito tímida, carente de afecto e atenção, que nunca lera romances de amor. Apaixonam-se: ela perdidamente, ele…
Uma carta anónima põe fim à relação adúltera. Para evitar o escândalo, Julien é obrigado a partir para um seminário em Besançon.
Ali, é perseguido, odiado e invejado pelos outros seminaristas. Vale-lhe o apoio do padre Pinard que o aconselha… recorre a Deus, que, para te castigar da tua presunção, te deu essa necessidade de ser odiado; que a tua conduta seja pura: é o único recurso que te resta e, para o salvar daquela perseguição o recomenda, como secretário, ao Marquês de La Mole. Julien é contratado e parte para a grande cidade: Paris. Antes, porém, encontra-se secretamente com a amante e amiga, a Sra. De Rênal.
- na segunda parte, Julien vive no palácio de La Mole e não esquece as palavras do padre Pinard: para pessoas da nossa condição, o único caminho para a fortuna são as boas relações com a fidalguia.
Julien, trabalha na magnífica biblioteca do palácio. Sendo ele um leitor compulsivo, é lá que encontra algum conforto… nos donos da casa havia tanto orgulho como tédio. Estavam habituados a ultrajar os outros para se divertirem… e é lá que um dia se cruza com a menina De La Mole, a altiva e orgulhosa Mathilde. Ele, interesseiro, inicia a conquista, ela rejeita-o… mas, despois, deixa-se seduzir.
O casamento com Mathilde é impedido por uma carta da Sra. De Rênal.
Perdido de raiva, Julien dispara dois tiros contra a amiga. Será ele a morrer na guilhotina, poucos meses depois, não sem antes descobrir o amor verdadeiro e sentir prazer nas lágrimas.
Julien tem vinte e três anos.
Não faltei eu a nada do que me devo a mim próprio? Desempenhei bem o meu papel? E que papel! O de um homem acostumado a ser brilhante com as mulheres.
Gostei de bisbilhotar a vida intricada de Julien Sorel.
Que grande romance!
 
Vermelho e Negro, de Stendhal (Henry Marie Beyle, 1783-1842)
Editorial Inquérito
Tradução de José Marinho
494 págs.

2 comentários:

  1. Teresa,
    adorei a sua opinião. No livro que acabei de ler, O Impiedoso País das Maravilhas e o Fim do Mundo, de Murakami, esta é uma das referências literárias a que ele alude. Murakami refere a escrita algo "negra" de Stendhal, não sei se concorda com este ponto de vista.
    A dada altura a Teresa escreve: "memoriza a Bíblia (para impressionar a alta sociedade, que despreza)".
    Fiquei intrigado.
    Não será esta uma contradição nos termos? Não será antagónico tentar impressionar alguém que se despreza?
    Foi só um pensamento. :)
    Boas leituras!

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    1. Olá André Nuno,
      O “negro” na escrita de Stendhal, é, para mim, a violenta, realista e corajosa crítica à sociedade da época . Nada, nem ninguém, escapa à pena mordaz de Stendhal: a fidalguia fútil e hipócrita, os políticos corruptos, tirânicos e incompetentes, a igreja rica e interesseira.
      Julien odeia quem tem dinheiro e posição social. É com e enfado que recita de cor passagens da Bíblia, nas festas do Sr. de Rênal. A sua memória espantosa impressiona quem ele mais despreza, traz-lhe fama e… aumentos de ordenado. Tudo o que ele ambiciona.
      Antagónico? Talvez!

      Há muito tempo que não leio Murakami...
      Bom fim-de-semana!

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