Chamo-me Serena Frome (rima com plume) e há quase quarenta anos fui enviada numa missão secreta para os serviços de segurança britânicos. Não regressei incólume.
Serena é a protagonista/narradora desta história de espionagem, vivida no período da guerra fria, numa Inglaterra em plena crise política e económica, com convulsões sociais e actos de terrorismo. Mas é, também, uma empolgante história de amor, intriga, traição e livros, muitos livros.
Apesar do ritmo acelerado com que ela fala da sua infância e adolescência, ficamos a saber que até aos dezoito anos de vida nada de estranho ou de terrível lhe aconteceu; que é filha de um bispo anglicano, de uma mãe ambiciosa e autoritária; tem uma irmã mais nova (que não tem a sua beleza, nem inteligência); cresceu numa casa recheada de livros; sabe jogar ténis, adora ler romances e é dotada para a matemática. Sabemos, também, que queria tirar um curso de Inglês, mas acabou por tirar Matemática, em Cambridge. Graças à minha mãe, estava a tirar o curso errado, mas não parei de ler. Ler... era a minha maneira de não pensar.
Enquanto estudante universitária, Serena mantém os hábitos de leitura e… coleciona namorados.
No último ano do curso escreve uma coluna “O Que Li na Semana Passada”, na revista ?Quis? É um sucesso, mas, uma mudança dos seus gostos literários e o cunho anticomunista das crónicas semanais, leva ao seu despedimento: o declínio teve início com os cinquenta minutos que passei com Um dia na vida de Ivan Denisovitch, de Alexandre Soljenitsine.
Nesse mesmo ano, tem uma relação com Tony Canning, um atraente homem de cinquenta e quatro anos, casado, professor de História, com duas paixões na vida: beber e conversar. O caso dura poucos meses, mas os suficientes para mudarem a vida de Serena. Com um determinado fim em vista, o amante impõe que ela abandone os romances e passe a ler livros sobre história. Faz-lhe verdadeiros exames orais sobre essas leituras.
…passadas algumas sessões e alguma rabugice… comecei a dar-me conta da própria história.
Tony Canning, candidata Serena aos serviços de segurança britânicos MI5 e prepara-a para uma entrevista de emprego.
Logo de seguida, o professor de história, ele próprio um veterano do MI5, termina de forma estranha a relação com ela e… desaparece.
No início dos anos 70, Serena é admitida nos serviços secretos, na categoria mais baixa do funcionalismo público, responsável pelo arquivo, indexação e trabalho afim de biblioteca. Desolada, a matemática e jogadora de xadrez, considera o cargo um insulto mas aceita, decidida a pôr ordem na sua vida.
Meses depois, Serena é convidada a participar numa missão secreta, com o nome de código Mel.
O objectivo é convencer Thomas Haley, um promissor romancista que procura um editor, a aceitar uma bolsa oferecida por uma organização de fachada, para que possa trabalhar a tempo inteiro na escrita, durante dois ou mesmo três anos.
Serena arranja para si uma vida secreta e vai conhecê-lo, conviver com ele e, dissimuladamente, convencê-lo a escrever temas que interessem... ao governo.
A fundação considera-o um talento único e extraordinário…
Tom Harley pensa na oferta, desconfia… mas aceita.
E Serena, a agente secreta "angariadora de talentos", a representante da Fundação da Liberdade que promove a cultura junto de um certo tipo de intelectuais, a matemática, a leitora compulsiva … apaixona-se e perde-se num mundo de segredos, mentiras e desilusões.
O que vai acontecer quando o escritor descobrir que lhe andámos a pagar a bolsa? Vai ficar furioso.
Ficará?
Não posso desvendar mais nada sobre o que se passa a seguir. Tenho de guardar segredo.
Para descobrir vai ter de “espiar” as voltas e reviravoltas deste extraordinário thriller de espionagem, que é, também, um manual de História e uma original homenagem aos escrevedores de livros.
Deixe-se levar por uma escrita elegante e rigorosa e penetre nos bastidores da política e dos serviços secretos.
Perca-se num empolgante jogo da espionagem e descubra quem espia quem.
O final é surpreendente.
Divirta-se e aprenda… História.
“Manipular o leitor é o meu prazer principal”, disse o autor numa entrevista.
Comprovei!
Mel, de Ian McEwan
Ed. Gradiva,
Tradução de Ana Falcão Bastos
386 págs.
Ando um pouco lenta nas leituras...
ResponderEliminarGosto da coluna de caricaturas aí ao lado. :)
Olá Luisa,
ResponderEliminarBem-vinda ao meu rol.
Acredita que também eu ando "meio para o preguiçosa"...
Até para "catar" caricaturas.
Aproveito para dizer que gostei muito do teu cantinho.
Bjs.
Li «Mel» no início deste ano. Tem sido um dos melhores de 2013, e já li alguns (muitos).
ResponderEliminarPor acaso li este mês outros 2 de Ian McEwan: «Amesterdão» e «Primeiro amor, últimos ritos».
Espero ler todas as obras do autor em breve.
Não li nenhum dos que indicas. "Amesterdão" tenho cá em casa.
EliminarLi "Solar" e gostei muitissimo. Não deixes de ler. Vais "morrer" de riso.
Bjs.