Contos, contos e mais contos.
Não há dúvida, este ano estou “virada” para os livros de contos.
Este é um pequenino livro (126 págs.) de um escritor moçambicano (o meu país do coração), com dez histórias sobre tradições relacionadas com a morte e o ritual dos funerais.
Dez histórias mágicas sobre um povo que aceita a morte como a continuidade da vida
Dez histórias mágicas sobre um povo que aceita a morte como a continuidade da vida
Mórbido? Nem pensar.
Magnífico!
Sobre este livro, disse Mia Couto:
“Este Rio dos Bons Sinais” é uma deambulação pela história recente de um país recém-chegado ao mundo e de gente que não se demarcou do estado de fantasma. Há, nestas histórias, mortos que encontram a Morte, homens de luto perpétuo que apenas visitam a vida nas cerimônias fúnebres, jovens que amanhecem pendurados numa corda de sisal. A morte atravessa todos estes relatos mas a sua marca não é a do definitivo desfecho: os mortos permanecem vivos, eternos sussurra dores de luzes e lendas”.
Começa assim a história “A sombra vagabunda”:
- Estou a apodrecer vivo.
Olhei para trás e dei de chofre com o homem que pronunciara aquela frase. Mais do que uma pessoa parecia o fiapo de uma extinguível sombra. Uma silhueta de si próprio, réstia de alguém que fora um ser humano. Olhei-o nos olhos. Olhei-o fixamente. Tinha um olhar que encenava a sua própria tragédia. Um olhar que denunciava o estado do seu corpo já desfeito pelo tempo, não obstante a idade. Estava curvado e parecia levitar. Caminhava empurrado pela aragem. Com ele, havia a manhã de sol e algum frio naquele sábado findava. Tinha alguma luz naqueles olhos que acenavam à vida, que lhe fugia. Certamente.
Gostei!
Kanimambo, Nelson Saúte.
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