22 maio, 2012

Poema de... Ana Marques Gastão

PAPIRO
Branco pranto em folha de papiro. As palavras deste texto são abandono, reflexo antigo, regresso em excesso a um tempo solar; modificam um rumo, o nosso, contraditório, irreal, não permitem a fala, o vocabulário abissal, agitam-se, sobem, riem, extenuam-se, inauditas, revoltam-se, possuem, pálidas, um resto de luz; são caligrafia deformada, sonoridade anterior, restauro, esboço, bosque. As palavras deste texto são a outra que me vê em branco pranto numa folha de papiro onde me firo afinal.

Poema de Ana Marques Gastão, Portugal (1962-)
Desenho de Almada Negreiros, Portugal (1893-1970)

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