11 outubro, 2011

Poema de... Florbela Espanca

LÁGRIMAS OCULTAS
Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

Poema de Florbela Espanca, Portugal (1894-1930)
Pintura (Femme aux bras croisés 1902) de Pablo Picasso, Espanha (1881-1973)

2 comentários:

  1. Florbela, minha poeta do coração, que canta o sofrimento da alma como ninguém! Poema e obra de Picasso (fase azul) casaram otimamente!

    Abraços.

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