28 maio, 2017

Vale a pena ler... José Tolentino Mendonça


“Cada vez mais se ouve pais hesitantes do seu papel que perguntam se a tarefa que lhes cabe é a de serem pais para os seus filhos ou simplesmente grandes amigos. Tornarem-se amigos dos filhos, vencendo a distância simbólica que a parentalidade estabelece, aparece hoje a mães e a pais como uma solução tentadora que os colocaria melhor na órbita existencial dos filhos, cúmplices das etapas que estes percorrem, confidentes privilegiados das suas vivências e, desse modo, com maior capacidade de influenciar e de intervir. Será verdade? (…)
Os pais precisam aceitar que cada filho é uma vida distinta e autónoma, ao mesmo tempo gerada por eles e inacessível, à maneira de um segredo que protegem mas cujo conteúdo está destinado a escapar-lhes. (…)
A tarefa da vida dos filhos é fazerem-se criativos herdeiros de um dom recebido que também eles não entendem até ao fim ou não entendem logo. Ora, ser herdeiro não significa apenas receber a parte de bens que lhe corresponde, mas construir em diálogo com essa vida recebida uma identidade original. (…)
Mas uma função inalienável dos pais é recordar que a vida humana é fundada em limites e sinalizá-los. Precisamente o contrário da promessa consumista das nossas sociedades, onde tudo aparece pronto para ser adquirido, devorado e esquecido.”

Excerto da crónica “Pais ou amigos dos filhos?”, de José Tolentino Mendonça (presbítero e poeta português, n. 1965), publicada na “E”, revista do jornal Expresso de 27 Maio 2017
Vale a pena ler na íntegra.

Pintura “A sagrada família do passarinho”, do espanhol  Bartolomé Murillo (1617-82)

8 comentários:

  1. Como já pensei nisso!! Mas minha proposta sempre foi e será ser pais e não amigos. Sempre disse para nossos filhos (as mulheres reivindicam mais essa condição), que somos mais que amigos, somos pais! Quem vai segurar as grandes ondas? Quem irá aconselhar, mesmo pronta a receber caras e bocas contrárias? Quem ficará em má situação por ter aconselhado o contrário dos amigos? Nós, os pais, e somos os únicos que segurarão os terremotos. Pais são pais, amigos são amigos e podem dar no pé quando a coisa entorta. Você já viu pais se mandarem, deixar a coisa explodir? Não, estarão lá. Até pode haver, mas será exceção.
    Mas esse assunto é ótimo e renderá pano pra manga...
    Eu tenho umas historinhas que nunca esqueci os gestos de minha mãe, lembro que ao me defender, lá pelos meus 13 anos, me senti um leão ao seu lado e explodi como filha da leoa ao enfrentar uma turminha de 5 mais velhas do que eu...Nunca esqueci, Ela não foi minha amiga, foi minha mãe naquele momento.
    Beijosss

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    1. Tais, concordo totalmente: amigo vai e vem; pais estão sempre lá, atentos, disponíveis para ajudar, aconselhar.
      Mas convenhamos, há pais e Pais... e então, o ombro dum Amigo torna-se um "porto de abrigo".
      Beijo.

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    2. Concordo com o que você disse, tem pais e pais; amigos e amigos... toda regra tem suas exceções!! Recentemente perdi uma amiga de décadas, sinto uma falta dela enorme... Quando ando por onde andávamos, lembro dela com muito carinho e saudade. E falta. E conheço mães ou pais que não se dá muito por eles...
      Capito? A regra é, ou seria que pais suprissem tudo! Mas são humanos. Isso é utopia.
      Beijão!!!

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  2. Um belo texto para refletirmos!!! Bj

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  3. Olá Teresa.
    Pelo que li, pela importância do tema, acho que vale a pena ler o livro e conhecer um pouco o seu autor. Quem sabe possa encontrá-lo por aqui.
    Espero que tenhas uma ótima semana.
    Um abraço.
    Pedro

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  4. concordo. Pais são pais. E os filhos não lhes pertencem, são apenas e só (o que já é muito e dá muito trabalho) seus filhos.

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  5. Bem, nada de extremos, sou mãe para qualquer situação, e amiga de meus filhos para qualquer situação, mas sou a que aconselha, a que dá bronca, a que chora junto, a que critica os erros e elogia os acertos. Acho que sou mãe. Mas erro 'pra caramba'!! Pois não sou o máximo em nada.
    E assim sendo, fico pensando, será que existe uma linha reta neste contexto?
    Amei, beijinhos Léah

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    1. Olá Léah!
      Esquece a linha recta e continua errando «pra caramba».
      És mãe «para qualquer situação"; então, isso não é o máximo?
      Repondo eu: SIM!!
      Amiga, a perfeição é enfadonha.
      Beijo.


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