11 abril, 2011

"Fome" - Knut Hamsun

Li este livro numa viagem de comboio Lisboa – Porto. É daqueles que só largamos quando chegamos ao ponto final.
Aconselho que façam a leitura completa do prefácio – A ARTE DA FOME, de Paul Auster, um dos mais perfeitos prefácios que já li, um auxiliar precioso para a leitura deste romance intemporal, escrito em 1890. (confesso que acho alguns prefácios tão enfadonhos que leio dois parágrafos e salto três…).

O que leva um jovem escritor, um homem solitário, a desfazer-se dos seus bens, a vaguear andrajoso pelas ruas frias da cidade numa miséria extrema, a escrever artigos não solicitados para um jornal local, a passar fome, muita fome?
Para escrever ele tem de comer. Para comer ele tem de escrever.
Mas nem sempre come quando recebe do jornal porque, simplesmente, oferece o dinheiro. E quando come, vomita.
Para atenuar a fome, que por vezes não lhe permite sequer pegar no lápis, mastiga aparas de madeira, chupa pequenas pedras, morde os dedos até sangrar.
Tem noção de que não está no seu pleno juízo, mas continua a atormentar-se, perdendo o controlo sobre os seus pensamentos e as suas acções.
Sente-se cada vez pior, tanto espiritualmente, como fisicamente “quando passava fome durante um período um pouco mais longo, era como se o cérebro lentamente me escorresse para fora da cabeça, deixando-me vazio”.
Se tem consciência de que as suas loucuras o levarão à morte, porque não pára? Porque continua a passar fome?
Acabará por parar.
A mestria do autor não deixa que nós, leitores, sintamos compaixão pelo jovem escritor, pois percebemos que a “fome” desse sonhador é a procura de uma identidade e de um reconhecimento dentro das suas próprias alucinações.
Estranho, não é?

Knut Hamsum (1859-1952) nasceu em Gudbrandsdalen, na Noruega.
Muito pobre, aos dezassete anos tornou-se aprendiz de sapateiro e, quase na mesma altura, começou a escrever. Passou alguns anos da sua vida nos Estados Unidos da América.
“Fome” é considerado pela crítica um marco da literatura moderna.

Fome, de Knut Hamsun (Prémio Nobel da Literatura em 1920)
Cavalo de Ferro, 2010
Tradução de Liliete Martins
247 págs.

Pétalas de sabedoria...


Só é possível ensinar uma criança a amar, amando-a.



Johann Goethe
Escritor alemão (1749-1832)

10 abril, 2011

Li e sublinhei... Susan Nolen-Hoeksema

• “Quando a tristeza é amplificada em vez de dominada, pode conduzir-nos a caminhos de desespero, imobilidade e ódio por nós próprios”.

• “O problema de pensar demais é que isso não revela a realidade e o significado mais profundo e verdadeiro da nossa vida”.

• “Pensar demais faz com que pensamos de forma mais negativa sobre o nosso passado, o nosso presente e o nosso futuro. Interfere com a nossa capacidade de encontrar soluções para os problemas que enfrentamos e enfraquece a nossa confiança e motivação para pôr em prática quaisquer soluções que consideremos”.

08 abril, 2011

"Dieta saudável (The Food Doctor)" - Ian Marber

Navegando por outras páginas...

O calor está a chegar e há que perder as gordurinhas inestéticas que acumulámos com os suculentos repastos de inverno.
Não acredito em dietas maníacas que oferecem soluções rápidas de emagrecimento. Aliás, confesso que nunca fiz qualquer dieta da moda. Quando o ponteiro da balança ultrapassa o que considero aceitável… bebo água morna com sumo de limão ao pequeno-almoço e, como por milagre, a gordura “derrete”…
Mas isso não invalida que não goste de pesquisar, em livros da especialidade, dicas para melhorar os meus hábitos alimentares e os da minha família.
Estou a falar deste livro porque o seu objectivo principal não é promover o emagrecimento rápico, mas sim “educar” o sistema digestivo para uma redução de peso gradual e o desenvolvimento de hábitos saudáveis.
O livro divide-se em três partes:
. Dieta Sete Dias – uma dieta pensada para estimular uma boa digestão dos alimentos, através da exclusão dos hidratos de carbono simples, dos estimulantes e das gorduras saturadas.
. Plano para a Vida – um programa de alimentação simples e sustentável, para aprender a desenvolver bons hábitos alimentares.
. Receitas – receitas simples ou mais sofisticadas, mas sempre com ingredientes frescos, saudáveis e acessíveis.
Fantástico!

Dieta saudável, de Ian Marber
Civilização, 2004

Pétalas de sabedoria...


Vivemos numa época em que sobram decibéis e estrépito; mas faltam pessoas e ideias que iluminem.


José Luis Sampedro
Escritor espanhol

06 abril, 2011

"Histórias de amor" - Robert Walser

A fantasia tem olhos que tudo vêem.
Robert Walser – “o poeta mais escondido que alguma vez existiu”, nasceu em Biel, na Suiça, em 1878.
Entre 1904 e 1933 publicou uma vasta e original obra poética e romanesca que entusiasmou a crítica da época, mas depressa foi votado ao esquecimento.
Filho de mãe esquizofrénica, vivia em permanente estado de depressão até que em 1929 decide entrar voluntariamente num manicómio. No dia de Natal de 1956 foi encontrado morto, na neve, por um grupo de crianças. Tinha saído para um dos seus habituais passeios solitários.
Para este livro, Volker Michels, um profundo conhecedor da obra de Robert Walser, seleccionou 80 narrativas, das cerca de mil que o autor escreveu. São pequenas histórias sobre os sonhos da adolescência, sobre o erotismo e o amor, repletas de humor corrosivo, que nos enternecem e nos divertem vendo o autor brincar com o leitor, ou, como diz o próprio, são “tragédias em poucas linhas escritas por um novato”.
Confira, lendo excertos de duas histórias:
“Era uma vez uma rapariga que crescia num quartinho. O quartinho era simpático, a rapariga era bonita e engraçada., e disso mesmo se convencia diante do espelho que tinha por hábito interrogar. A casa onde se encontrava o quartinho que albergava a rapariga era apenas uma casinha. O juízo da rapariga era apenas um juizinho; o seu coração, só um coraçãozinho; a sua esperança, não mais que uma esperançazinha, e o seu pé, um pezinho apenas.
A rapariga era amada por um homem novo e bonito… A rapariga nova e bonita, por sua vez, também o amava, um pretexto para que o autor da presente historiazinha, conhecendo o enredo e o desenlace da mesma, se divirta às suas custas.”

“Um rapaz e uma rapariga, gente jovem a valer dos nossos tempos. Oskar e Emma de seu nome, amavam-se. Era profundo o seu amor, e ninguém duvidava menos e acreditava com mais fervor neste facto do que eles próprios. Até aqui tudo perfeito, só que havia qualquer coisa que lhes faltava, e vamos já dizer o que era esta qualquer coisa estranha e fabulosa que lhes faltava. Ninguém, para onde quer que olhassem, os impedia. Tinham licença, por assim dizer, para se amarem, beijarem, beijocarem e explorarem, sempre que para tal tivessem vontade. Mas era precisamente esse o problema: na ausência de entraves, cada vez menos tinham vontade de se dedicar a esta edificante ocupação. Os dois bons e excelentes jovens adoeciam por virtude de uma abundância de liberdade, e os seus suspiros tinham por motivo a falta de obstáculos."

“É uma tarefa cansativa, esta de contar histórias”.
80 (oitenta) pequenas mas irresistíveis histórias!
Leia!

Histórias de amor, de Robert Walser
Relógio d’Água, 2008
Tradução de Isabel Castro Silva
236 págs.

02 abril, 2011

Li e sublinhei...Susanna Tamaro


“Ler não é mais do que criar um pequeno jardim no interior da nossa memória”.

• “Antes de aprender a escrever é preciso aprender a resumir… O resumo exclui os adornos, as descrições, as pausas e ensina-nos a penetrar, por meio da síntese, na essência da narração”.

• “As coisas importantes – as coisas que dão solidez e sentido a uma existência – não estão à venda, vão-se conquistando passo a passo, lentamente, com perseverança e coerência. O dinheiro que as paga é o cansaço”.

• “As únicas pessoas capazes de nos modificar somos nós mesmos”.

30 março, 2011

Sumário de leituras



Li ou reli em Março 2011
• O outro homem, de Bernhard Schlink
• A rapariga das laranjas, de Jostein Gaarder
• O amor não espera à porta, de Marisa de Los Santos
• Tão veloz como o desejo, de Laura Esquivel
• A louca da casa, de Rosa Montero
• Cristal da pele, de José Manuel Carreira Marques
• Estrela errante, de J.M. G. Le Clézio

Dou nota máxima:
• A louca da casa, de Rosa Montero
• Estrela errante, de J.M.G. Le Clézio