13 novembro, 2020

A "peste" - Albert Camus

Ah! Se fosse um tremor de terra... Um boa sacudidela e não se fala mais nisso. Contam-se os mortos, os vivos e pronto. Mas esta porcaria desta doença! Até os que a não têm trazem-na no coração.
Sinopse: 
Na manhã de um dia 16 de Abril dos anos 1940, o doutor Bernard Rieux sai do seu consultório e tropeça num rato morto. Este é o primeiro sinal de uma epidemia de peste que em breve toma conta de toda a cidade de Orão, na Argélia. Sujeita a quarentena, esta torna-se um território irrespirável e os seus habitantes são conduzidos até estados de sofrimento, de loucura, mas também de compaixão de proporções desmedidas. 

“Houve no mundo tantas pestes como guerras. E, contudo, as pestes, como as guerras, encontram sempre as pessoas igualmente desprevenidas. (…) Quando rebenta uma guerra, as pessoas dizem: «Não pode durar muito, seria estúpido.» E, sem dúvida, uma guerra é muito estúpida, mas isso não a impede de durar. A estupidez insiste sempre e compreendê-la-íamos se não pensássemos sempre em nós. Os nossos concidadãos, a esse respeito, eram como toda a gente: pensavam em si próprios. Por outras palavras, eram humanistas: não acreditavam em flagelos. O flagelo não está à medida do Homem; diz-se então que o flagelo é irreal, que é um mau sonho que vai passar. Ele, porém, não passa, e de mau sonho em mau sonho, são os homens que passam e os humanistas em primeiro lugar, pois não tomaram as suas precauções. Os nossos concidadãos não eram mais culpados do que os outros. Apenas se esqueciam de ser modestos e pensavam que tudo era ainda possível para eles, o que pressupunha que os flagelos eram impossíveis. Continuavam a fazer negócios, preparavam viagens e tinham opiniões. Como poderiam ter pensado na peste, que suprime o futuro, as viagens e as discussões? Julgavam-se livres e nunca ninguém será livre enquanto existirem flagelos.” 
 
««Doutor, salve-o!» (...) «O senhor não tem coração», disseram-lhe um dia. Sim, ele tinha um coração. Servia-lhe para suportar as vinte horas por dia em que via morrer homens que haviam sido feitos para viver. »

«O gráfico dos progressos da peste, com a sua subida incessante, depois o longo planalto que lhe sucedera, parecia inteiramente reconfortante (…) na realidade, nada se podia prever, dado que a história das epidemias comportava saltos imprevistos.»

«O dia de Todos os Santos, nesse ano, não foi o que era costume (…) os cemitérios estavam desertos.»

- Tens medo, mãe?
- Na minha idade já se tem medo de pouca coisa.
- Os dias são mais compridos e eu agora nunca estou em casa.
- Não me faz diferença esperar, desde que saiba que vais chegar.

Ufa! Não foi fácil!
Agora, porque palavras minhas aqui não fariam qualquer sentido, digo apenas que "A Peste" - uma parábola de ressonância intemporal, um romance magistralmente construído, uma história arrebatadora sobre o horror, a sobrevivência e a resiliência do ser humano  -  foi publicado em 1947, repito, em 1947.
Leia. Se eu consegui ler, também conseguirá.

A peste, de Albert Camus - Prémio Nobel de Literatura, 1957
Livros do Brasil/Porto Editora, 2016
261 págs.

10 comentários:

  1. A "peste" de Albert Camus é um clássico que me acompanha desde jovem, isto é, toda a obra do escritor argelino.

    Opiniamos sobre este livro num dos encontros do Círculo Literário.

    Beijo literário da Teresa daqui para a TERESA daí.

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  2. Acredito que seja um livro muito interessante de ler
    .
    Cumprimentos

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  3. Olá, querida amiga Teresa!
    Muito propício o livro, atual para qualquer peste.
    Li atentamente e percebi que a peste está em nosso 💙 de todo jeito... Bem assim, contraímos no 💙, por empatia

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  4. Desculpe, foi antes...
    Tenha dias abençoados!
    Bjm carinhoso e fraterno

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  5. Gostei imenso do livro quando o li. Sem sacrifício algum. O ponto é que hoje me lembro de pouca coisa.

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  6. https://www.youtube.com/watch?v=P2V6f2MmlIE
    Abraço Teresa

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    Respostas
    1. Uau!!!
      Vou ouvir, claro.
      MUITO obrigada, Ricardo.
      Por isto (e por outras coisitas mais...) é que eu gosto da blogosfera.
      Beijo, bom domingo, protege-te bem.

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  7. A Peste. Li há muitos anos. Voltei a relê-lo agora. Quantas coisas coincidem com a tragédia que estamos a viver...
    Cuida-te bem, Teresa minha Amiga.
    Um beijo.

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  8. Fque legal, Teresa, sempre ouvi falar muito bem deste livro, agora diante de nossa realidade imagino ser luz em nossas reflexões sobre essa loucura toda.
    Abraço!

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