13 outubro, 2020

Gosto de rostos sulcados de rugas...


"uma cara sem rugas é uma terra sem caminhos"
Ana Margarida de Carvalho, in "O Gesto que Fazemos para Proteger a Cabeça"


Gosto de rostos sulcados de rugas.
Cada sulco revela um tesouro de experiências, lembranças, alegrias, tristezas. Mas também muita solidão, preocupação e dor. Muita dor!
Qual tela dum pintor, a alma e o coração de um velho estão retratados no seu rosto.
A riqueza incomensurável das suas memórias deveria ser valorizada e transmitida de forma digna aos jovens. Jovens que são os futuros velhos.
Infelizmente, nesta sociedade consumista e apressada, os valores da família são facilmente descurados e os velhos abandonados em casa, em hospitais, em lares localizados tão longe da vista quanto longe estão do coração. São carga que é necessário despachar.
Depois de levados para um lar, pago com a pensão de velhice do próprio velho, chegam a dar moradas e telefones falsos para ninguém incomodar.  E logo esquecem quem lhes deu a vida, quem os acarinhou em criança, quem os apoiou na adolescência, quem os aconselhou na idade adulta. 
Como irão esses adultos, homens e mulheres, ser tratados na velhice pelos seus filhos? Com respeito? Com carinho?
Convençam-se, como eles virem tratar os avós, assim tratarão os pais.
(Teresa Dias)

(foto da net)

15 comentários:

  1. Que bela fotografia!
    A minha avó tinha quase 80 anos, quando um dia me disse: "Teresinha, parece que tenho uma ruga?!" O rosto da minha avó era liso como o "popo" de um bébé.

    ResponderEliminar
  2. Nessas rugas reside a experiência da vida.
    .
    Cumprimentos
    Um dia feliz

    ResponderEliminar
  3. "Convençam-se, como eles virem tratar os avós, assim tratarão os pais." Será que é isto verdade, Teresa? Acha que os filhos de hoje não viram os pais a tratar dos avós? Parece-me que a equação tem mais incógnitas.
    No resto, concordo com o seu texto sábio de homenagem, embora não me debruce muito sobre gostar ou não de rugas. Gosto das pessoas, não se me dá se têm ou não rugas, é tema um bocado alheio ao gosto. Ainda que, sim, são sinal do que se viveu, estão lá os risos e o choro, os problemas que resolveram ou não, a doença e a morte, os nascimentos, as noites insones ou perdidas por via de filhos e netos que não dormem. Tudo. São sinais do que passou, memórias vivas que apontam o fim do caminho e merecem respeito.

    ResponderEliminar
  4. Que tema triste, Amiga do coração...tão triste quanto real. Não temo a velhice, pois, se lá chegar, é sinal de que a vida me deu um caminho longo para percorrer, nem sempre recto e florido, mas, mesmo quando me apareceram aqueles caminhos estreitos, cheios de pedras e curvinhas apertadas, tive a sorte bastante para prosseguir até encontrar a estrada bem lisinha e com as bermas iluminadas e floridas. O medo que tenho é de me ver abandonada por aqueles que muito amei e a quem dei sempre o meu melhor. Muitas vezes digo-lhes que, enquanto eu estiver lúcida saberei cuidar de mim ou então saberei arranjar alguém que me ajude nas tarefas mais dificeis, mas, se eu perder a lucidez, que se lembrem da forma como eu e o meu irmão cuidamos dos nossos pais. Tantas vezes lhes digo isto, Teresa! Tenho a certeza que o exemplo é a melhor maneira de ensinar os nossos filhos, mas, mesmo assim, o receio surge. Quanto às rugas, querida Amiga, não faço conta de as tirar e olha que já são algumas, mas....evito de as olhar e pronto...assunto resolvido.
    O tema é triste, mas é pertinente e gostei que o tivesses abordado. Deixo-te um abraço muito, muito apertadinho, daqueles que estão a fazer falta a muitos velhinhos , mas que não devem ser dados. Sabes, se calhar era melhor esquecermos a pandemia e abraçamos um desses seres tão carentes, não achas? Apetecia-me...
    Bem...como não posso, abraço-te a ti; não és carente, mas sei que gostas muito de dar e receber abraços.
    🙏🌻

    ResponderEliminar
  5. Esqueci de assinar...
    Desculpa...
    Emilia

    ResponderEliminar
  6. Olá, querida amiga Teresa!
    Interessante abordagem.
    Minha avó era um amor.
    Meus pequeninos estão um amorzinho comigo.
    Muito bom tratar bem os avós.
    Tenha dias abençoados junto aos seus amados!
    Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

    ResponderEliminar
  7. as rugas sao anos de uma vida vivida um post que nos deixa a pensar parabens bjs

    ResponderEliminar
  8. Que belo texto, Teresa, tantas verdades, mas vivemos numa época de dúvidas, o que passamos aos filhos não quer dizer que será devolvido em amor ou em cuidados. O ciclo da vida difere por muitos razões, poderemos ter uma velhice ótima, rodeados de amor e atenção como também nem tanto, hoje existem as casas para os idosos, que há anos não existiam, apenas asilos para pobres, cada família cuidava de seus velhinhos. Mas o mundo deu voltas.
    Nunca esqueci do que li de uma velhinha no que Japão cometeu um delito, roubou qualquer porcaria para ser presa, porque na prisão teria companhia, cuidados e não sentiria 'solidão'. Postei no meu blog há tempos. E o que pensar disso, minha amiga? A solidão apavora muitas pessoas, mas o que dizer dos velhinhos?
    Esse teu belíssimo texto traz uma enorme reflexão para todos nós. É coisa muito séria. E gostei de ler aqui no Rol.
    Beijo, amadinha.

    ResponderEliminar
  9. Oi Teresa! Penso que encarar a o envelhecer assumindo tudo que ela traz é um bom começo para envelhecer com dignidade, sem sofrimento.
    Cada cultura tem um jeito de encarar a velhice e o cuidar dos idosos. Se um dia eu ficar em situação de dependência, com certeza seria a primeira a propor me deixar em um asilo ou algo do tipo. Acho que cuidar de alguém com limitações exige demais de quem ainda possa estar ativo na vida, não me sentiria bem em ver alguém se anulando para cuidar de mim quando se houver outras possibilidades que considero afetuosas também. Sei lá...é muito pessoal, cada ser é diferente assim como cada situação.
    Adorei as reflexões, abração!















































    ResponderEliminar
  10. Não sei o que de mim sabe
    Da minha idade
    Das rugas que me povoam a face
    De quantas se devem ao sorriso
    Das tantas que me povoam a testa
    na apreensão do que me inquieta

    E o que me inquieta
    é
    a ausência do diálogo intergeracional
    e o descartar dos velhos

    (eu, septuagenário
    me declaro
    uma excepção e muito mimado)


    ResponderEliminar
  11. Estou farto de dizer o mesmo.
    Muito mais que as palavras, o discurso, vale o exemplo.
    Beijo

    ResponderEliminar
  12. Todos nós um dia chegaremos a velhos. É preciso respeitar quem já o é e quem, se tiver sorte, o será dentro em breve ! Cuidemos dos nossos idosos !!!
    Abraço Teresa

    ResponderEliminar
  13. Um excelente texto.
    Sempre ouvi dizer. "Filho és, pai serás como fizeres assim acharás. Cuidei da minha mãe durante 27 anos. O último ano e meio se hipóteses de continuar a fazê-lo, foi para um lar. Pequeno. na mesma rua onde viveu durante 40 anos. a 500 metros da minha casa onde eu ou o meu irmão a íamos ver todos os dias e sempre que podíamos e estava bom tempo trazíamo-la na cadeira de rodas a dar uma voltinha pela rua. Acabou morrendo no hospital onde esteve internada quase um mês. Ía vê-la todos os dias, mas não sei se ela se apercebia que eu estava lá, pois não dava qualquer sinal de vida.
    Abraço e saúde

    ResponderEliminar
  14. "Cada ruga do rosto é um caminho onde a angústia se deteve"
    Lindíssimo e para reflectir este teu texto, minha Amiga Teresa. A tua sensibilidade é enorme.
    Protege-te bem.
    Um beijo.

    ResponderEliminar
  15. Não são velhos
    são jovens com experiência
    Bj

    ResponderEliminar