09 outubro, 2020

"A história de uma serva" - Margaret Atwood


... aquilo que nos dizem está imbuído das trevas da matriz de onde vêm; e, por mais que tentemos, nem sempre conseguimos decifrá-las com exatidão à luz mais clara dos nossos dias.
Sinopse: "Uma visão marcante da nossa sociedade radicalmente transformada por uma revolução teocrática. A História de Uma Serva tornou-se um dos livros mais influentes e mais lidos do nosso tempo.
Extremistas cristãos de direito derrubaram o governo norte-americano e queimaram a Constituição. A América é agora Gileade, um estado policial fundamentalista onde as mulheres férteis, conhecidas como Servas, são obrigadas a conceber filhos para a elite estéril. 
Defred é uma Serva na República de Gileade e acaba transferida para casa do enigmático Comandante e da sua ciumenta mulher. Pode ir uma vez por dia aos mercados, cujas tabuletas agora são imagens, porque as mulheres estão proibidas de ler. Tem de rezar para que o Comandante a engravide, já que, numa época de grande decréscimo do número de nascimentos, o valor de Defred reside na sua fertilidade e o fracasso significa o exílio nas Colónias, perigosamente poluídas. Defred lembra-se de um tempo, antes de perder tudo, incluindo o nome, em que vivia com o marido e a filha e tinha um emprego. ” 
Tudo, à exceção das abas que me ladeiam o rosto, é vermelho: da cor do sangue, que nos define.

Confesso, não me entusiasmou este premiado e elogiado romance de Margaret Atwood, originalmente publicado em 1985. Mas li as 348 páginas.
A história de Defred, narrada pela própria, pareceu-me algo impensável de acontecer: mulheres subjugadas pelo terror ao poder de homens numa sociedade «bizantina ao extremo», divididas numa estranha hierarquia - as Esposas,  mulheres estéreis, casadas com os Comandantes; as Tias, mulheres mais velhas, responsáveis pela  «domesticação» das Servas;  as Servas, jovens impedidas de ler e escrever, comprovadamente férteis, repetidamente violadas pelos Comandantes em cerimónias sórdidas, (descritas ao pormenor); as Martas, criadas das Esposas, limpam e cozinham, proibidas de sair e conviver com as jovens Servas. Em Gileade, onde tudo se passa, há GuardiõesOlhos que tudo veem. Há rebeldes que são enforcados em praça pública. Há insubmissos que são desterrados para trabalhar/morrer longe, nas Colónias. Há... há... há...
A dada altura diz Defred: «Oxalá esta história fosse diferente. Oxalá fosse mais civilizada. (...) Oxalá tivesse mais forma. Oxalá fosse uma história de amor, ou de entendimentos súbitos e importantes para a vida, ou até de pores do sol, pássaros, tempestades ou neve.»
Digo eu: Oxalá!

Enfim, li sem pingo de entusiasmo um livro diferente do que costumo ler, um romance distópico.
Talvez por falta de capacidade para imaginar o mundo tão perverso, o que li pareceu-me de todo improvável.
A série, baseada no livro eu não vi, nem verei.

(Nota: Li "1984" (a distopia do indivíduo sob controle), de George Orwell e tudo me pareceu assustador mas verosímil. Vou tentar ler mais literatura distópica.)

A história de uma serva, de Margaret Atwood
Tradução de Rosa Amorim
Bertrand Editora, 2018
348 págs.

9 comentários:

  1. Não sei se teria coragem para ler até ao fim.
    Abraço, saúde e bom fim de semana

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  2. Este é um género de romance que nos inquieta e nos questiona...
    Um bom fim de semana, minha Amiga Teresa.
    Um beijo.

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  3. Teresa, não li o livro, já ouvi muitos dizerem que não gostaram e outros adoraram. Se não me engano aqui no Brasil saiu com o título de O Conto da Aia.

    Agora, da série digo que é sensacional, uma das melhores que assisti, é densa sim, tem muitos temas a se refletir, mesmo sendo uma distopia, há muita "liga" com o mundo atual que vivemos, onde as ideias mais absurdas são consideradas como normal e o monstro vai tomando tamanho, o fanatismo cega.
    A trilha sonora é maravilhosa, sempre termina com um som totalmente a ver com o episódio...É chocante, te envolve na dor e esperança. Há episódios que mal conseguia respirar, mas acredito realmente ser necessário assistir ou ler aquilo que necessitamos saber.
    E já é sexta de novo, bom final de semana, abração!

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  4. Não li e não vou ler; tão pouco vi a série. Há pessoas de quem toda a gente gosta e eu não. Paciência. Os escritores são muitos, e os leitores, espero eu que ainda mais.

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  5. desejo um feliz fim de semana tudo de bom bjs

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  6. Confesso que não me suscita curiosidade ou entusiasmo.
    Beijo, boa semana

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  7. confesso a minha ignorância
    mas, sobretudo, venho agradecer à minha amiga
    a amável referência que me faz no blog da Tais-

    beijo. grato

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    1. Manuel, aquele seu comentário me fez voltar à adolescência... no meu país do coração.
      Sem televisão, víamos cinema em sessões contínuas.
      Obrigada, beijo.

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  8. Gosto muito de distopias, no entanto ainda não li este livro. Apesar de ter visto opiniões bastante positivas, parece-me um livro demasiado duro. Considero que a esterilidade é cada vez mais comum (pelo menos é a sensação que tenho) e poderá ser uma tendência futura. Contudo, sabendo da existência de escravas para procriação não me dá muito ânimo de investir nesta leitura.

    Beijinhos

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