07 novembro, 2017

"Crepusculário" - Pablo Neruda


AMOR
Mulher, teria sido teu filho, para beber-te
o leite dos seios como de um manancial,
para olhar-te e sentir-te a meu lado e ter-te
no riso de ouro e na voz de cristal.

Para sentir-te nas veias como Deus num rio
e adorar-te nos ossos tristes de pó e cal,
para que sem esforço teu ser pelo meu passasse
e saísse na estrofe- limpo de todo o mal -.

Como saberia amar-te, mulher, como saberia
amar-te, amar-te como nunca soube ninguém!
Morrer e todavia
amar-te mais.
E todavia
amar-te mais
                    e mais.
Pablo Neruda (pseudónimo de Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto) é um dos grandes poetas da língua castelhana do século XX, e um dos mais lidos em todo o mundo.
Nasceu em Parral, Chile, em 1904.
Em 1923 publicou o primeiro livro "Crepusculário", com poemas escritos no período em que estudava pedagogia e francês na Universidade de Santiago. São poemas nostálgicos, de uma beleza estranha, sobre a vida, a mulher, o amor, a natureza. Revelava-se o poeta chileno da "voz original", o humanista, o poeta do amor.
O livro seguinte “Vinte poemas de amor e uma canção desesperada”(1924), consagrou-o como poeta universal.
Em 1927 iniciou uma longa carreira diplomática.
Marxista e revolucionário, defensor dos movimentos libertários, em 1945 ingressou no Partido Comunista do Chile.
Em 1945 recebeu o Prémio Nacional de Literatura do Chile; em 1953 o Prémio Lenine da Paz; e em 1971 o Prémio Nobel da Literatura.
Faleceu em Santiago, Chile, em 1973, vítima de cancro na próstata, diz a certidão de óbito. 
Em 2011 o Partido Comunista chileno exigiu em tribunal que a morte do poeta fosse investigada. Dois anos depois o corpo foi exumado e a equipa internacional de investigadores apurou que não foi o cancro que o matou. Doença ou assassínio, o mistério continua.
O filme “O Carteiro de Pablo Neruda” (Pablo Larraín, 1994) aborda aspectos da vida do poeta no final da década de 40. Se ainda não viu (duvido!!), veja. É belíssimo!

Não resisto a partilhar três versos do último poema do livro:

FINAL
...
Dizei-me, amigos, onde
esconder o silêncio, para que nunca mais outros
o sintam com os ouvidos e com os olhos.
...

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