19 dezembro, 2014

"A pomba e a rosa" - conto de Ramiro Calle


A pomba e a rosa
“O Sol começava a despontar. Os primeiros raios rasgaram a escuridão da noite e, com a claridade do novo dia, uma pomba, volitando, entrou inadvertidamente num templo. Todas as paredes do santuário estavam cobertas com espelhos. No centro do santuário, em oferenda ao Absoluto, o sacerdote colocara uma belíssima rosa, que se reflectia nos espelhos provocando inúmeras imagens de si mesma. A pomba, tomando os reflexos da rosa pela rosa verdadeira, começou a lançar-se contra um e outro espelho, chocando violentamente contra eles, incansavelmente, até que o seu pequeno e frágil corpo sucumbiu. Morta, a pomba tombou sobre a rosa.

Em qualquer ser humano encontra-se o real e o adquirido; o essencial e o aparente. A busca do bem-estar exterior deve ser associada e complementada com a busca do bem-estar interior. Se uma pessoa puser toda a sua energia ao serviço da aparência, da imagem e da personalidade, consumirá a sua vida cativa dos reflexos, e de costas viradas para a sua natureza real, ou essência. É preciso aprender a distinguir entre o acessório e o substancial mediante o discernimento correcto, e ir recuperando esse “eu verdadeiro”, diferente do “eu social”. A rosa do conhecimento desponta dentro de nós mesmos.

Os Melhores Contos Espirituais do Oriente” – Ramiro Calle, ed. A esfera dos Livros.

Foto tirada da net.

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