Não sei o que Deus ainda me reserva. Mas antes de morrer, quero escrever a história do dia em que Lajos veio ver-me pela última vez e me roubou. Há três anos que venho adiando estes apontamentos. Agora, sinto como se uma voz, contra a qual não posso defender-me, me exortasse a escrever a história desse dia - e tudo, tudo o que sei acerca de Lajos -, porque esse é o meu dever, e já não tenho muito tempo.
Poucas vezes um início de romance me atraiu tanto. Foram ainda menos, as vezes que uma história de amor me comoveu e arrebatou. E muito menos ainda, as vezes que “ouvi” uma personagem.
Acreditem se quiserem, eu ouvi Eszter contar a história do dia em que Lajos voltou para lhe tirar a única coisa de valor que ela possuía: a casa dos seus pais, onde vive com a velha Nunu, uma casa húmida e fria, maltratada pelo tempo, onde aconteceram muitas coisas e nem sempre alegres. E na história daquele dia coube toda a vida de Eszter. Uma vida feita de anéis de mentiras.
Estranho?
Não, porque a escrita de Sándor Márai é perfeita e mágica!
Diz a sinopse:
Durante vinte anos Eszter viveu uma existência cinzenta e monótona, fechada sobre si própria, esperando a morte e sonhando com o retorno de um amor impossível. Até ao dia em que, inesperadamente, recebe um telegrama de Lajos, o único homem que amou e graças ao qual encontrou, por um breve período, sentido para a sua vida. Grande sedutor e canalha sem escrúpulos, Lajos não só traiu Eszter como destruiu a sua família, tirando-lhe tudo o que possuía. Agora, depois de uma ausência prolongada, regressa e Eszter prepara-se para o receber comovida e perturbada por sentimentos contraditórios.
Como não quero revelar mais sobre o enredo, não encontro as palavras exactas para falar de Eszter, nem estou interessada em imitar Lajos - que no meio das suas mentiras, se extasiava e chorava, continuava a mentir com as lágrimas nos olhos, e, por fim, para grande surpresa de todos, já dizia a verdade com a desenvoltura com que, no início, mentira - fico por aqui.
Antes, porém, recomendo vivamente que leiam (ou oiçam?!) esta história.
Ou melhor, eu recomendo que leiam tudo o que Sándor Márai escreveu. TUDO!
O homem vive, e corrige, ajusta, edifica, e destrói, algumas vezes, a sua vida; mas, passado tempo, dá-se conta de que o todo, tal como está, por força dos erros e do acaso, é imodificável.
Magnífico!
A herança de Eszter, de Sándor Márai
Tradução de Ernesto Rodrigues
Ed. Dom Quixote, 2006
150 págs.
Olá
ResponderEliminarJá li este livro faz algum tempo mas recordo que gostei muito e foi uma bela surpresa.
Boas leituras!
Gostei muito, aliás, gosto muito do Sándor Márai.
ResponderEliminarMarly