O mal de amor é muito engraçado para toda a gente menos para quem dele sofre.
Estarão as grandes histórias de amor do século XIX mortas? Ou existirá uma história nova, escrita para os nossos dias e atenta às realidades do feminismo, da liberdade sexual, das convenções antenupciais e do divórcio?
Depois do empolgante e extraordinário “Middlesex” (2002), decepcionou-me este romance de Jeffrey Eugenides. Reconheço que ele continua a escrever muito bem, mas o enredo desta história de amor, que poderia ser simples e cativante, é massudo, intrincado e desinteressante. Do total das 500 páginas, cativaram-me as primeiras 166 e mais algumas lá para o fim. As restantes, bem, as restantes… enfastiaram-me por completo.
A história começa no dia da cerimónia de formatura dos jovens estudante da Universidade de Brown, em Providence, que concluíram os respectivos cursos. Está-se no início na década de 1980. O país está numa recessão profunda e a vida, depois da universidade, é mais dura do que nunca.
Logo nos primeiros parágrafos conhecemos Madeleine Hanna. Ela é filha de pais cultos e ricos. Uma aluna aplicada de Estudos Ingleses – a opção de quem não sabia que opção tomar - e uma romântica incurável. Está no quarto, deitada na cama, com uma almofada a tapar-lhe a cara. Tenta dormir, depois de uma noite de excessos. Os pais, Alton e Phyllida, tocam à campainha do apartamento que ela partilha com duas raparigas. Chegaram cedo de Nova Jérsey, para a verem receber o diploma. Querem comemorar não apenas o sucesso da filha mas também o seu próprio sucesso de pais.
O problema é que ela… tinha perdido a fé no significado do dia e naquilo que ele representava.
Madeleine adora ler. No quarto tem a obra completa de Henry James, todos os romances de Edith Wharton, muito Dickens, um cheirinho de Trollope, boas doses de Austen, George Elliot, Brönte, os romances de Colette. Leu-os a todos. Alguns várias vezes. Também lá está a primeira edição de Casais Trocados, pertença da mãe, que Madeleine usa como apoio textual na sua tese de bacharelato sobre o enredo conjugal na literatura inglesa.
Em assuntos do coração Madeleine era contra a ideia do sexo sem compromisso mas extremamente gratificante e seguia algumas regras: não andava com rapazes que não gostassem dos pais… não gostava de rapazes nervosos... não namorava rapazes que iam a psiquiatras.
Teve alguns “casos” com colegas até se apaixonar por dois rapazes que “furam” todas as regras: Mitchell Grammaticus e Leonard Bankhead.
Mitchell é um rapaz inteligente, com fraca auto-estima. Apaixonado por Madeleine só pensa: “Vou-me casar com esta rapariga.”
No final do curso de estudos religiosos, depois de um verão de tédio, sem o amor de Madeleine e alguns empregos de último recurso, viaja durante quatro meses por nove países diferentes. Numa espécie de peregrinação, ele tenciona encontrar o significado das várias religiões e respostas sobre o sentido da vida.
Começa por Paris, segue-se Atenas, depois… muitas peripécias depois (contadas em muitas, muitas páginas) Calcutá, a cidade mais pobre do mundo, onde faz voluntariado.
Quatro meses depois regressa e encontra o país ainda em recessão e Madeleine casada com o rival Leonard.
Leonard, é filho de pais alcoólicos, um aluno brilhante de ciências, introvertido, frenético, carismático. Quer seguir investigação. Aos dezoito anos, no primeiro ano de faculdade, foi-lhe diagnosticada uma doença que não tinha cura, uma doença que só se podia “gerir” - psicose maníaco-depressiva. Eu sou mercadoria estragada, dizia ele.
Quando Madeleine descobriu já estava apaixonadamente envolvida e nem a leitura diária das desconstruções do amor, de Barthes ajudavam a diminuir o seu amor por ele.
E mais não conto.
Como irá Madeleine resolver o seu próprio “enredo conjugal”?
Leia e saiba que as pessoas não salvam outras pessoas. Salvam-se a si próprias.
Leia e encontre a padaria portuguesa e a peixaria portuguesa que vendia sardinhas e lulas.
A sério!
O enredo conjugal, de Jeffrey Eugenides
Ed. D. Quixote, 2014
500 págs.
Por acaso estava muito curioso, precisamente porque achei o Middlesex extraordinário...
ResponderEliminarOlá Pedro,
EliminarMiddlesex é um romance extraordinário, que aconselho a todos os que gostam de ler boas histórias.
Já este... não me empolgou.