06 dezembro, 2013

"O homem duplicado" - José Saramago

… achou-se a perguntar a si mesmo, de súbito intrigado, de súbito perplexo, que estranhos motivos, que particulares razões teriam sido as que levaram o colega de Matemática… a aconselhar-lhe com tanta insistência o filme… Quem Porfia Mata Caça… quando a verdade é que nunca a chamada sétima arte havia sido assunto de conversa entre ambos.
Então, depois das aulas, Tertuliano aluga o filme, vai para casa, janta, lava a loiça, senta-se na sala para ver a comédia “Quem Porfia Mata Caça”, não gosta e diz em voz alta: amanhã vou devolver esta merda.
Ainda intrigado, vai para o quarto, deita-se na companhia do livro sobre as “antigas civilizações mesopotâmicas”, lê quatro páginas, adormece, acorda uma hora depois com um barulho estranho em casa, percebe que vem da sala, levanta-se da cama, pega num sapato à falta de arma mais contundente, vai à procura do intruso. Sim, porque Tertuliano Máximo Afonso, não é nenhum cagarolas.
Com o coração a galope, avança pelo corredor, casa de banho, cozinha, de novo corredor e aproxima-se da sala. Não tem dúvidas, o intruso está na sala. Tertuliano entra, olha em redor, não vê ninguém, mas repara que o aparelho de televisão está ligado, que o leitor de vídeo continua a passar o filme “Quem Porfia Mata Caça”. Era, então, aquilo.
Decide voltar a ver a fita, todo ele olhos, já sem risos nem sorrisos. De repente…
… de joelhos diante do televisor, com a cara tão perto do ecrã quanto lho permitia a visão, tem uma revelação tremebunda: o actor do filme é igualzinho a ele, é uma cópia perfeita, um duplicado seu.
O que vai Tertuliano fazer, agora que descobriu que na cidade há um homem que, a avaliar pela cara e pela figura em geral, é o seu vivo retrato?
Investigar, investigar e conhecê-lo!
Conseguirá? Como?
Eu já sei. Você, para saber vai ter de ler... sem esquecer as entrelinhas.
A seu tempo saberá porquê.
Mas, quem é Tertuliano Máximo Afonso?
Tertuliano é professor de História numa escola do ensino secundário e está ciente de que a História que ensina, tem uma enorme quantidade de rabos de fora.
Já foi casado e não se lembra do que o levou ao matrimónio. Divorciou-se e não quer lembrar-se dos motivos por que se separou. Tem uma namorada, Maria da Paz, mas ele não se deixa prender demasiado.Vive só, ou melhor, com o seu senso comum, com quem tem longas e interessantes conversas.
 
Dos romances de Saramago que já li, não vou dizer que este é o melhor, mas digo que é brilhante.
Ter conhecido Tertuliano Máximo Afonso, o professor encarregado, pelo director da escola, de preparar uma proposta para o Ministério, em que as matérias históricas fossem estudadas do presente para o passado em vez de o serem do passado para o presente, foi…
... o máximo!
 
O homem duplicado, de José Saramago
Ed. Caminho, 2002
318 págs.

2 comentários:

  1. Nunca gostei de José Saramago,pois ele escreve sem virgulas e pontos finais,torna-se um pouco dificil de entender os livros dele. Desejo um mês de dezembro fantastico para ti e excelentes leituras. Beijinhos e fica com deus!!

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    1. Olá Joaninha,
      És muito bem-vinda ao meu rol.
      Sobre a pontuação de Saramago dou-te um conselho: começa a ler, esquece os pontos e as vírgulas, pois nem darás pela sua falta, e verás que a diversão é total. Tenho a certeza que vais amar as suas histórias e virás ao meu rol dar-me razão. Vou sugerir um primeiro livro... "Todos os nomes". Começas e não vais parar. Acredita! No final irás pensar "nem dei pela falta da pontuação", boa!
      Bjs e um excelente Natal para ti também.
      Volta sempre.

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