Na Rússia não há histórias de negócios. E não há histórias de política. Não há histórias de amor. Só há histórias de crime.
… mas Nick, o narrador deste romance, um advogado inglês de 38 anos, relata não só histórias de crime, mas também histórias de amor, decadência moral, corrupção, desespero, sobrevivência, segredos, impunidade e embuste. São histórias perturbadoras em que se deixou enganar e envolver e quase destruíram os seus padrões éticos. São histórias tensas sobre a sociedade corrupta de uma nova Rússia. São histórias de segredos e crimes hediondos, revelados no fim do longo e frio inverno moscovita, quando a neve começa a derreter e os corpos (os fura-neve) surgem à luz do dia.
Os pecados que o inverno esconde, por vezes para sempre.
Nick é um dos muitos advogados ocidentais que vivem em Moscovo e trabalham em escritórios que avaliam pedidos de empréstimos feitos por homens de negócios, os homens do petróleo, a bancos estrangeiros.
Pacífico? Não, porque há histórias mirabolantes pelo meio…já que aos bancos não importa o destino dos empréstimos, mas apenas fazer negócios em Moscovo, onde os russos se afogam em petrodólares.
Convida um porco para jantar e ele há-de pôr as patas em cima da mesa.
Nick vive há quatro anos em Moscovo. Vive sozinho, num bloco de apartamentos construído pouco antes da revolução, deambula a pé pela cidade, frequenta clubes noturnos, “emborca” vodka e fala um russo fluente.
A sua vida decorre calma e normal, mesmo na guerra do quotidiano russo, até aquele dia de Setembro em que se cruza com a sedutora Masha numa plataforma do Metro, olha para ela mais tempo do que devia e… o caos instala-se.
Só nas ratoeiras é que há queijo à borla.
Gostei deste primeiro drama-romance, mas não me empolgou.
Realço, porém, que encontrei um enredo delicado e inteligente, uma escrita elegante e fluída, uma análise conhecedora e cuidada da sociedade russa (A.D. Miller foi correspondente da revista The Economist em Moscovo), excelentes e credíveis personagens, uma descrição brilhante do gelado inverno russo.
… quando o fim do mundo chegar, há de vir da Rússia.
Talvez, talvez, digo eu… enregelada!
Quando a neve começa a derreter, de A.D. Miller
Ed. Civilização, 2011
Tradução de Ana Baer
208 págs.
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