05 março, 2013
Poema de... Florbela Espanca
O MEU ORGULHO
Lembro-me o que fui dantes. Quem me dera
Não me lembrar! Em tardes dolorosas
Eu lembro-me que fui a Primavera
Que em muros velho fez nascer as rosas!
As minhas mãos, outrora carinhosas,
Pairavam com pombas... Quem soubera
Porque tudo passou e foi quimera,
E porque os muros velhos não dão rosas!
São sempre os que eu recordo que me esquecem...
Mas digo para mim: «Não me merecem...»
E já não fico tão abandonada!
Sinto que valho mais, mais pobrezinha:
Que também é orgulho ser sozinha,
E também é nobreza não ter nada!
Sonetos, de Florbela Espanca
(Inclui estudo crítico de José Régio)
Bertrand, 1978
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