25 julho, 2011

"O partir dos ovos" - Jim Powell

Acho que existem dois tipos de história. Há a história dos grandes acontecimentos, a marcha do progresso científico, o choque das ideologias, as guerras e os desastres. E depois há a história como ela é vivida por milhões de pessoas, pela Europa, pelo mundo.
Paris, 1 de Janeiro de 1991. A Europa recupera da separação causada pela Cortina de Ferro.
Feliks Zhukovski, narrador e protagonista deste comovente romance, está em casa a recuperar de uma gripe.
Preocupada, Madame Lefèvre, a sua senhoria desde 1955, faz dois comentários que irão despoletar uma transformação inimaginável na vida solitária e rotineira de Feliks:
- "É sempre bom estar no nosso lar quando se está doente, Monsieur Zhukovski.
- Se não se importa que lhe diga, Monsieur Zhukovski, está a ficar um bocado velho para toda essa correria. Devia abrandar, se quer saber a minha opinião."
Feliks nasceu na Polónia, em 1930. Tem um irmão, Woodrow, nove anos mais velho. Em 1939, exactamente uma semana antes de os nazis invadirem a Polónia, a mãe manda-os para um sítio seguro, para casa duma irmã que vive na Suíça. O ambiente ali é terrível, sentem que não são desejados. O irmão, que tinha prometido que iria tomar conta dele, foge, em 1941, e nunca mais o contacta. Ele, na impossibilidade de poder regressar à Polónia, vai para França, em 1947,
Tinha saudades da minha mãe. Detestara-a por ela nos ter despachado para a Suíça como se fossemos bagagens indesejáveis; mas sentia a falta dela. Era uma dupla infelicidade; ser abandonado pela minha própria mãe e depois descobrir que não podia ir para casa. O único ponto de ligação era Woodrow e a seguir ele abandonou-me também.
Feliks, que durante toda a sua vida adulta tinha sido partidário de "uma ideologia que advogava a mudança, a mudança radical, como a solução para os problemas da sociedade", não gostava de mudanças na sua própria vida.
As últimas grandes mudanças aconteceram em 1955, quando começou a escrever um pequeno guia de viagens para os países da Europa de Leste e se mudou para o apartamento de Madame Lefèvre.
Na altura era membro do Partido Comunista francês.
As próximas grandes - ENORMES – mudanças acontecerão ao longo de 1991, o ano das rupturas, o ano dos reencontros, o ano do regresso ao passado doloroso.
Feliks vai vender o seu Guide a uma empresa americana. "Vai contra tudo aquilo em que acreditei na minha vida inteira, contra tudo aquilo que eu fiz".
Na América reencontra o irmão que não via há 50 anos. "Quando me viu deu-me o maior abraço que se possa imaginar".
Viaja para a Polónia para procurar a mãe. Entregam-lhe uma carta que ela escrevera em 1979. "Quero contar-vos tudo o que me aconteceu desde o dia que mudou a minha vida para sempre".
Decidido a encontrar Kristin, o grande amor da sua vida, parte para Berlim. "O Natal de 1991 ia ser um Natal atarefado, um Natal cheio de gente".
… Nos anos trinta começámos a ter notícias do que Estaline estava a fazer – os julgamentos encenados, as mortes e os desaparecimentos. Diziam: não se pode fazer uma omeleta sem partir ovos. Interrogo-me sobre o que eles acham agora sobre isto: um país inteiro, meio continente cheio de ovos partidos e de cascas de gente quebrada.
Que grande primeiro romance.
Que grande e comovente viagem pela história do século XX, com o relato dos horrores da guerra, o impacto do fascismo e do comunismo, a queda do Muro de Berlim e o desmoronar do bloco soviético.
Inesquecível!

O partir dos ovos, de Jim Powell
Civilização editora, 2011-07-25
Tradução de Isabel Baptista
320 págs.

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