Cabe a nós próprios construir a história das nossas vidas, dentro das restrições impostas pelo mundo real, ou mesmo contra elas.
Inteligente a estrutura narrativa deste livro de J.M. Coetzee, galardoado em 2003 com o Prémio Nobel de Literatura.
Inteligente, engenhosa e original, baralha-nos a desenvoltura com que o autor se revela enquanto personagem da sua própria ficção, num exercício de auto-depreciação avassalador.
Confuso?
O biógrafo inglês, Mr. Vicent, trabalha num livro sobre o falecido escritor John Coetzee.
O seu projecto centra-se entre 1972 e 1977, época em que Coetzee, então na casa dos 30, compartilhava com o pai viúvo uma degradada casa rural nos arredores da Cidade do Cabo.
Entrevista, então, várias pessoas: Julia, a mulher casada com quem Coetzee teve um caso e que define essa relação como uma “narrativa sem corpo”; Margot, a prima preferida, com quem ele abria o coração; Adriana, uma bailarina brasileira mãe da jovem Maria Regina a quem ele dava aulas particulares de inglês; Martin e Sophie amigos, colegas e, como ele, professores universitários.
A partir destes testemunhos chega a um retrato pouco lisonjeiro do jovem Coetzee como um indivíduo desajeitado, incapaz de se relacionar com os outros, emocionalmente reprimido, incompetente com as mulheres, um macambúzio, um atraso de vida, um desmancha-prazeres.
O que é real e o que é ficção?
O autor nasceu na Cidade do Cabo, na África do Sul, em 1940. Viveu vários anos nos Estados Unidos, regressou à África do Sul e vive, actualmente, na Austrália.
No regresso à África do Sul publica os primeiros livros, revolta-se contra o poder político e… cuida do pai viúvo e doente.
O resto descubra neste empolgante, comovente e divertido livro.
Verão, de J.M. Coetzee
D. Quixote, 2010
Tradução de J. Teixeira de Aguilar
279 págs.
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