24 setembro, 2019

À terça: imagens e palavras: "perda"



"Os livros sobre a perda são monumentos funerários, jazigos públicos de dores privadas. São também viagens pessoais a lugares inóspitos de onde se regressa, sim, mas com o quê? Com os mortos? Com uma ilusão consoladora mas fugaz? (...)  a literatura não traz ninguém de volta, mas ajuda os vivos a sobreviver num presente partido, mais que imperfeito."


Bruno Vieira Amaral, escritor português (1978-), in “Manobras de guerrilha”, Ed. Quetzal, 2018
(Foto da net.)

23 comentários:

  1. Faz, talvez, parte de uma catarse que a literatura proporciona.

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  2. Intenso, profundo, lindo! bjs, chica e ótimo dia!

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  3. Boa tarde de Outono, querida amiga Teresa!
    Somos apegados e queremos que a ressurreição ocorra só para nos satisfazer... entretanto, ela contece por outros motivos...
    Sadia abordagem que muito nos leva a refletir.
    Tenha um abençoado e feliz Outono!
    Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

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  4. Não sei o que são livros sobre a perda. Para mim os livros que li, quaisquer que eles sejam, não se confinam a um assunto. Têm perdas ou falam sobre elas, por fazerem parte da vida e importarem no desenvolvimento pessoal, seja ficcionado ou real. Mas não se cingem a esse assunto ou a dissertar sobre o tema. Tanta vez a morte é pretexto para se falar da vida.
    Mas o escritor não deixa de ter razão e, por razões que advoga ou por outras, todos erguemos o nosso monumento a alguém. Não precisa estar escrito.

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    1. Olá, Bea!
      Do nada recordei 3 extraordinários livros que li sobre a "perda":
      - "Os níveis da vida", de Julian Barnes, onde o escritor chora a morte da mulher Pat Cavanagh, com quem viveu durante 30 anos. Diz ele "Choro-a descomplicada e absolutamente."
      - "A rídicula ideia de não voltar a ver-te", de Rosa Montero, um livro pessoalíssimo, escrito depois de perder Pab, o companheiro de uma vida.
      - "Paula", de Isabel Allende, um livro biográfico, escrito à cabeceira da filha Paula, hospitalizada em Dezembro de 1991, privada de consciência, estado que se manteve até à sua morte, em Dezembro de 1992. Escreveu, então, a mãe "... a minha memória fixa-se com a escrita; o que não ponho em palavras no papel, o tempo apaga-o."
      Os dois primeiros livros estão aqui, no Rol. O terceiro está lido, mas nunca consegui escrever sobre ele.
      Beijo.

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    2. Olá Teresa,

      Já li esses três.
      'Paula' já há imensos anos, quando li tudo o que havia para ler da Isabel Allende, a seguir à Casa dos Espíritos.
      Devastador!
      Do Julian Barnes também já li vários livros, e 'Os Níveis da Vida' é um pequeno grande livro (aquilo a que eu chamo uma pérola) pela maneira como a história é contada.
      A Rosa Montero é um amor antigo, desde A Louca da Casa e das crónicas do El País. Tenho vários livros dela (em formato bolso e em castelhano, pois muitos nunca chegam a ser traduzidos).
      Aliás comprei o 'La ridícula idea de no volver a verte' em 2013, pensando que nunca seria traduzido, e adorei, adorei mesmo. E tal como a Teresa diz na sua recensão (que fui ler), também eu aprendi imenso sobre a Marie Curie.
      É um livro extraordinariamente comovente sobre duas mulheres extraordinárias.
      A Rosa Montero é uma excelente escritora e uma mulher muito culta, desengane-se quem pensa que ela é uma escritora light.
      Se me permite, faço aqui uma referência ao 'El amor de mi vida', que também comprei em 2013, sendo que este amor é a Literatura. É um livro que fala sobre livros e escritores.
      Bem, resta-me desejar-lhe um excelente fds e perguntar: Quando saem as fotografias dos Açores?
      Um beijo.

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    3. Olá, Maria!
      Ora bem, vou focar-me na Rosa Montero.
      Concordo consigo, Rosa Montero não é uma escritora light. Disso dei conta quando li "A louca a casa". E confirmei, lendo o extraordinário "Instruções para salvar o mundo", onde se mostra exímia contadora de histórias, senhora de uma narrativa apurada e imaginação fantasiosa e sem limites. No caso, são histórias de destinos cruzados, bem temperadas com ironia e humor. Adorei este livro!
      Quanto ao "El amor de mi vida", vou procurar nas livrarias. Sendo esse amor a Literatura, vou gostar.
      Sem qualquer razão, tenho andado afastada de Rosa Montero.
      Agora, se me permite, falo de outro escritor (leitor voraz): Hermann Hesse (1877-1962). Terminei há dias a leitura de "Uma biblioteca da literatura universal", 109 páginas de uma reflexão actualíssima sobre a Literatura, o universo da escrita e da leitura, a magia dos livros. Diz ele "Sem a palavra, sem a escrita e sem os livros não há história, não existe a ideia de humanidade." Aconselho!
      De Hermann Hesse li (e postei no Rol) o MAGNÍFICO "Siddhartha".
      As fotografias dos Açores sairão. Quando? Não sei dizer. Estou enredada em mais de mil...
      Beijo, feliz fim-de-semana.

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    4. Sim, Teresa, acho que vai gostar. Ela dedica o livro a "La gran hermandad mundial de amantes de los libros", e logo no prefácio transcreve estas palavras do Vargas Llosa: 《Lo más importante que me ha pasado en la vida ha sido aprender a leer》.
      E eu não podia estar mais de acordo.
      Espero que consiga encontrá-lo :)

      Fui ali à estante onde tenho os Nobel e do Hermann Hesse tenho estes:
      - Demian
      - Siddhartha
      - Contos Maravilhosos
      - O Lobo das Estepes
      - O Jogo das Contas de Vidro
      e
      - Uma Biblioteca da Literatura Universal :)
      Parece que temos muitos gostos em comum.

      Deixo aqui dois títulos de livros sobre livros que gostei muito de ler:
      - Génio, do Harold Bloom
      - Porquê Ler os Clássicos?, do Italo Calvino.

      E, por falar em Bruno Vieira Amaral, a Teresa conhece o "Guia para 50 Personagens da Ficção Portuguesa"? Eu achei muito interessante.

      Beijo e domingo feliz.

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    5. Obrigada, Maria, pelas dicas. Vou procurar TODOS nas livrarias. Parece-me sim, que temos gostos em comum. É bom!
      Gosto da escrita de Bruno Vieira Amaral e pensava eu já ter lido tudo dele. Enganei-me! Acabei de encontrar na net o livro que indica e descobri outro que também me passou ao lado "Aleluia"(2015). Afinal... ando a ver mal!!
      Sobre a frase de Vargas Llosa, sensacional,vou colocá-la no meu blogue "Pétalas de Sabedoria". Espreite-o!
      Já agora, acabei de ler "O herói discreto", de Llosa. Magnífico!
      Beijo e bom domingo (aqui, tenho sol...e livros... e frases... e fotos...).

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  5. Penso que a literatura sobre o assunto deve ser uma maneira de o escritor fazer o luto.
    Abraço

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  6. Onde é que eu assino o comentário da luisa??

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  7. Acho que as pessoas sentem consolo ao lerem sobre outras pessoas que sofreram perdas, e sobre como elas as superaram.

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  8. Uma catarse. Fazer o luto… Mas o autor diz tudo:"a literatura não traz ninguém de volta, mas ajuda os vivos a sobreviver num presente partido, mais que imperfeito." Gostei muito, minha Amiga Teresa.
    Um bom fim de semana.
    Um beijo.

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  9. Um texto muito interessante.
    Obrigado pela partilha.
    Amiga Teresa, um bom fim de semana.
    Beijo.

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  10. Querida Teresa

    Eis um texto de meditação quase obrigatória. Pensar nas nossas perdas e procurar sobreviver a elas, numa demanda que esperamos não perder.

    Tenho, no Xaile, postezito para a Beatriz, a netinha da Emília.

    Bom domingo.

    Beijinhos

    Olinda

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    1. Olá, querida amiga Olinda!
      Vou espreitar...
      Entretanto, já mandei pela avó um beijito para a pequenina.
      O teu Xaile não tem tamanho. É especial!
      Beijo, bom domingo.

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  11. Frase muito inteligente:
    Dos fins, a morte é o fim;
    Sem finalidade, enfim,
    Aos afins do existente!

    E a literatura mente
    Como arte ser assim
    Com fins. E tim por tim-tim
    A cada um é diferente.

    Um poema é ambivalente:
    Cada um tira o que sente
    Ou nem sente a poesia

    E isso ajuda a nossa mente
    Fazer nossa alma contente
    Lendo o que o outro escrevia.

    Grande abraço! Laerte.

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    1. Obrigada, poeta!
      Pelo poema, pelo abraço, por «fazer (minha) alma contente».
      Abraço, boa semana.

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  12. As perdas acorrentam a nossa alma, mas a vida contínua e por isso temos de as guardar na nossa memória e seguir em frente.
    Beijinhos
    Maria

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  13. Escrever ou ler sobre nossas perdas é enfrentar e buscar mais a leveza das verdades que um dia enfrentamos e enfrentaremos, é dividir o mais dramático da vida.
    Leio sobre o assunto, mas procuro me proteger mergulhando mais devagar, pois é um tema de muita reflexão, de certa ansiedade, de muitas perguntas para algumas pessoas, pois queira ou não, nos colocamos no papel do personagem ou do autor. Não sei se me fiz entender, querida Teresa. O espírito tem de estar fortalecido...
    Também a Ana Bailune disse muito certo:
    "as pessoas sentem consolo ao lerem sobre outras pessoas que sofreram perdas, e sobre como elas as superaram."

    Beijinho, amiga!

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  14. ¿Que sería de nosotros, en todos los sentidos? si no hubieran existido los libros.
    Un abrazo, amiga.

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