"(...)Entre um ano que acaba e um ano que começa, a contas com o tempo que corre fora e dentro de nós, sentindo-nos talvez de forma mais sensível modelados por esse oleiro invisível que é o tempo, percebemos que a nossa vida é uma vida exposta. É impossível não detetar as marcas do tempo em nós: linhas de fragilidade, sombras, estremecimentos, erosões, zonas mais desvitalizadas, desvios. A unidade interior é um trabalho imenso. Parece-se ao manto que Penélope tecia durante o dia e desmanchava durante a noite, na sua espera quase sem esperança. Mas não podemos desistir de construir essa unidade de ser. Só aquilo que amamos com o extremo do amor não nos será tirado.(...) Dizer por exemplo, que a vida é marcada pela vulnerabilidade é reconhecer quando ela está exposta à possibilidade de ser ferida. (...) A vulnerabilidade é um acontecimento total. Descobrimos, no entanto, que através dela nos chega também o que nos redime. Só a vulnerabilidade nos eleva à altura do infinito à maneira de uma dança, onde a gravidade é vencida pela graça. E a dança não conhece fronteiras. O seu vocabulário é infinito pois é a emoção humana que ressoa no movimento. Tudo dança, tudo é dança. Os nossos olhos dançam, os nossos corpos rodopiam, a natureza (a nossa e a das coisas) manifesta-se num deslizar que se calhar não vemos.(...) E recorda Marta Graham: "A dança é a linguagem escondida da alma, é uma canção do corpo, um sopro de alegria e de dor. Importa apenas isto: levanta-te e dança".
Excerto da crónica “Levanta-te e dança”, de José Tolentino Mendonça (presbítero e poeta português, n. 1965), publicada na “E”, revista do jornal Expresso de 30 Dezembro 2016
Vale a pena ler na íntegra.
(Foto da net)
Vale a pena ler na íntegra.
(Foto da net)
Olá, querida Teresa,
ResponderEliminarA unidade interior é um trabalho imenso.
Só é um trabalho intenso, penoso para muitos. Às vezes leva-se uma vida inteira e... nada! Conheci um senhor que até sua morte carregava as sombras de seus pais - não muito bem aceitas e grandes mágoas por sentir que seus irmãos tinham a preferência deles. Que não era o filho querido. Mas contudo, levantava-se e dava a volta por cima, mas até a última recaída!
Porém, outros conseguem refazerem-se de outras complicações, próprias do ser humano. E levam-se para a dança!
Ótima postagem, amiga. Gosto dessas abordagens.
Um beijo, bom fim de semana.
O que ele não disse (talvez tenha dito, que não li o texto), é que andamos todos a dançar. Mas não temos todos a mesma graça ainda que, felizmente, todos passemos o tempo a mexer os pés e o resto do corpo. Em cada homem moram muitos passos, os de rumba, folclore, valsa e até passinhos à bebé.
ResponderEliminarOlá Bea, Olá Tais!
ResponderEliminarNeste mundo louco, bailar, rodopiar, saltar, pular... tudo ajuda a "dar a volta por cima"; a secar lágrimas sem ressentimentos, ódios e rancores; a ajudar; a confiar; a fazer escolhas correctas.
Eu danço, com passos certos ou trocados, danço...
É a vida!
Bjs.